Associação entre cassinos, criptomoedas e crime organizado se espalha pela Ásia, diz ONU

Mercado formal de jogos de azar online deve crescer para mais de US$ 205 bilhões até 2030, com a maior fatia na Ásia-Pacífico

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

Cassinos e criptomoedas são cada vez mais usados por bancos clandestinos e esquemas de lavagem de dinheiro no leste e no sudeste da Ásia, alimentando o crime organizado transnacional na região. Essa é a conclusão de um relatório do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (Unodc) lançado na última segunda-feira (15). 

O estudo destaca a relação entre cassinos online ilegais, agências virtuais de apostas e corretoras de criptomoedas que proliferaram nos últimos anos, juntamente com o aumento da criminalidade transfronteiriça em toda a região.

De acordo com o relatório, operadores baseados em Macau e seus associados criminosos tiveram um papel central no surgimento desta tendência. 

Após uma série de medidas regulamentares e de aplicação da lei em Macau entre 2019 e 2023, voltadas para abordar as saídas ilegais de capitais, corrupção e lavagem de dinheiro, grandes operadores de apostas foram presos.

Imagem ilustra mineração de criptomoedas em Toronto, Canadá, fevereiro de 2018 (Foto: Divulgação/Unsplash/ André François McKenzie)

Desde então, muitos operadores e jogadores se deslocaram gradualmente para áreas dentro e ao redor de Zonas Econômicas Especiais pouco regulamentadas, principalmente na região do Mekong, que abrange Camboja, China, Tailândia, Vietnã, Laos e Mianmar

Em Macau, houve uma diminuição considerável de agências de apostas, que caíram de 235 em 2014 para apenas 36 em 2023, com aproximadamente 12 atualmente em operação.

Cassinos no metaverso

A análise do Unodc estima que, após esta descentralização e crescimento, mais de 340 cassinos licenciados e não licenciados estavam operando no Sudeste Asiático no início de 2022, com a maioria tendo adotado uma operação online para oferecer streaming ao vivo e vários serviços de apostas. 

Segundo as investigações, diversos cassinos já surgiram inclusive no metaverso, um tipo de mundo virtual que tenta simular a realidade através de dispositivos digitais. 

Além disso, há indícios crescentes de grupos de crime organizado mirando projetos empresariais relacionados com a indústria mais ampla de jogos online, e particularmente jogos que usam blockchain.

De acordo com os últimos dados disponíveis do setor, o mercado formal de jogos de azar online deve crescer para mais de US$ 205 bilhões até 2030, com a região da Ásia-Pacífico representando a maior fatia do crescimento do mercado entre 2022 e 2026, com uma projeção de 37%. 

Novas oportunidades para o crime organizado

O representante regional do Unodc para o Sudeste Asiático e o Pacífico, Jeremy Douglas, disse que “cassinos e negócios relacionados, que movimentam alto volume de dinheiro, têm sido veículos para serviços bancários clandestinos e lavagem de dinheiro há anos, mas a explosão de plataformas de jogos de azar online sub-regulamentadas e corretoras de criptomoedas mudou o jogo”.

Ele destacou que “a expansão da economia ilícita exigiu uma revolução impulsionada pela tecnologia nos bancos clandestinos para permitir transações anônimas mais rápidas, o que promove uma mistura de fundos e novas oportunidades de negócios para o crime organizado”.

Os casos examinados também destacam como os operadores de cassinos online ilegais diversificaram as linhas de negócios para incluir fraude cibernética e lavagem de criptomoedas. 

O Unodc reuniu extensas evidências de influência do crime organizado dentro de complexos de cassinos, zonas econômicas especiais e áreas de fronteira, incluindo aquelas controladas por grupos armados em Mianmar para ocultar atividades ilícitas.

O estudo também descreve vários desenvolvimentos de políticas e medidas de fiscalização implementadas pelos governos da região para lidar com saídas ilegais de capital baseadas em cassinos, corrupção e lavagem de dinheiro que, em parte, impulsionaram essas tendências.

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