Ataque atribuído a militares deixa 35 mortos em Mianmar, incluindo crianças

Entre as vítimas estariam dois meninos de 17 anos, uma adolescente cuja idade não foi revelada e uma criança de aproximadamente cinco anos.

O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) condenou na terça-feira (28) o assassinato de pelo menos 35 pessoas, incluindo crianças e dois trabalhadores humanitários, no Estado de Kayah, em Mianmar. A agência da ONU (Organização das Nações Unidas) se disse “chocada” com o massacre ocorrido no dia 24 de dezembro, quando muitas das vítimas se preparavam para celebrar o Natal.

Relatos ​​sugerem que entre as vítimas estão dois meninos de 17 anos, uma adolescente cuja idade não foi revelada e uma criança de aproximadamente cinco anos. Também foram mortos dois trabalhadores humanitários da ONG Save the Children, mortos enquanto voltavam ao escritório após atenderem uma comunidade próxima.

“O Unicef apela a uma ação urgente para investigar este deplorável incidente e responsabilizar os responsáveis”, disse a diretora regional do Unicef para o Leste Asiático e Pacífico, Debora Comini. “Oferecemos nossas mais profundas condolências às famílias das vítimas e aos nossos colegas da Save the Children”.

Soldados de Mianmar durante desfile militar em Naipidau (Foto: Wikimedia Commons)

Militares denunciados

A Save The Children atribuiu o massacre a militares alinhados com o governo, que teriam retirado as pessoas de seus carros, prendido um grupo e assassinado outro. Os corpos dos mortos teriam sido queimados. O exército nega as acusações, de acordo com a rede britânica BBC.

A ONG usou sua conta no Twitter para denunciar o massacre. “Com profunda tristeza, confirmamos que dois membros de nossa equipe estão entre os corpos queimados encontrados em #Myanmar após um ataque dos militares na véspera de Natal. Ambos são pais novos que trabalhavam com educação para crianças. O Conselho de Segurança da ONU deve se reunir e tomar medidas para responsabilizar os autores”.

Embargo à venda de armas

Após o ataque, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse que os militares deveriam ser responsabilizados e pediu um embargo global à venda de armas ao exército de Mianmar.

Em julho deste ano, a Rússia foi apontada como principal fornecedora de armamento ao governo militar que comanda Mianmar desde o golpe de Estado de 1º de fevereiro de 2021. A revelação foi sido feita por Alexander Mikheev, chefe da Rosoboronexport, empresa estatal russa de exportação de armamento.

“Há uma estreita cooperação entre nós no fornecimento de produtos militares, incluindo aeronaves”, disse Mikheev, em afirmação atribuída à agência de notícias russa Interfax. Segundo ele, Mianmar é um dos principais clientes da empresa no sudeste asiático e parceiro-chave da Rostec, conglomerado russo aeroespacial e de defesa.

O comentário teria sido feito durante o Moscow Airshow 2021 (MAKS), uma feira internacional de aviação que teve a presença inclusive do presidente Vladimir Putin. E a revelação gerou reações de ativistas pelos direitos humanos, que acusam Moscou de legitimar a junta em meio à violenta repressão.

Em junho, durante uma reunião com o ministro da Defesa russo Sergey Shoygu, o general que comanda a junta militar em Mianmar, Min Aung Hlaing, havia dito que “graças à Rússia, nosso exército se tornou um dos mais fortes da região”, de acordo com a agência estatal russa Tass. Segundo ele, a amizade entre os dois países é “cada vez mais forte”, e os laços incluem ainda bolsas universitárias para milhares de soldados de Mianmar.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo já causou a morte de ao menos 1252 pessoas desde o golpe de 1º de fevereiro deste ano, uma reação dos militares às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, a NLD (Liga Nacional pela Democracia) venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu a presidente eleita Aung San Suu Kyi.

O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. Centenas de pessoas foram presas sem indiciamento ou julgamento prévio, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.

No início de dezembro, tropas da junta militar foram acusadas de assassinar 11 pessoas em uma aldeia no noroeste do país. De acordo com uma testemunha, as vítimas, algumas delas adolescentes, teriam sido amarradas e queimadas na rua. Fotos e um vídeo chocantes que viralizaram por meio de redes sociais à época mostravam corpos carbonizados deitados em círculo no vilarejo de Done Taw, na região de Sagaing.

A ação dos soldados seria uma retaliação a um ataque de rebeldes contra um comboio militar. Uma liderança local da oposição afirmou que os civis foram queimados vivos, evidenciando a brutalidade da repressão à população que tenta resistir ao golpe de Estado orquestrado em fevereiro deste ano.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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