Bangladesh envia de volta 288 soldados de Mianmar refugiados no país

Soldados birmaneses buscam refúgio no país vizinho em meio ao conflito sob o governo da junta

Na quinta-feira (25), Bangladesh repatriou 288 soldados de Mianmar que haviam atravessado a fronteira em busca de refúgio, enquanto o país enfrenta um conflito sob o governo da junta militar, conforme relatou uma autoridade. As informações são do The Financial Express.

Os soldados foram entregues a uma delegação de Mianmar no campo de Cox’s Bazar, no sudeste do país, afirmou Mia Mohammad Mainul Kabir, um alto funcionário do Ministério das Relações Exteriores de Bangladesh.

Este foi o segundo grupo de membros das forças de segurança de Mianmar repatriados. Em fevereiro, aproximadamente 330 membros das forças de segurança, incluindo policiais de fronteira, soldados, funcionários alfandegários, outros funcionários do governo e seus familiares, foram devolvidos ao seu país de origem.

Soldados das forças armadas de Mianmar em 2021 (Foto: WikiCommons)

Na quarta-feira, uma delegação composta por cinco membros de Mianmar também repatriou 173 cidadãos de Bangladesh que cumpriram diversas penas de prisão no território birmanês.

A migração de policiais de fronteira de Mianmar para Bangladesh começou em fevereiro deste ano, à medida que o conflito entre as forças governamentais e o Exército Arakan, juntamente com outros grupos insurgentes, se intensificava no país do Sudeste Asiático.

Este mesmo conflito tem levado os rohingya, uma minoria muçulmana perseguida, a tentarem atravessar para Cox’s Bazar. Cerca de 1,2 milhões de rohingya já vivem nessa região desde que fugiram da repressão das forças de segurança de Mianmar em agosto de 2017.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo palavras da ONU. A repressão imposta pelo governo militar foi uma reação às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, o partido NLD venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro de 2021, então, a junta militar, que já havia impedido a sigla de assumir o poder antes, prendeu a líder democrática Aung San Suu Kyi, dando início a protestos respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais.

As ações abusivas da junta levaram ao isolamento global de Mianmar, e em dezembro de 2022 o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução histórica que insta os militares a libertar Suu Kyi. A Resolução 2669 ainda exige “o fim imediato de todas as formas de violência” e pede que “todas as partes respeitem os direitos humanos, as liberdades fundamentais e o Estado de Direito”.

A proposta, feita pelo Reino Unido, foi aprovada no dia 21 de dezembro de 2022 com 12 votos a favor. Os membros permanentes China e Rússia se abstiveram, optando por não exercer vetos. A Índia também se absteve.

Beijing e Moscou, por sinal, estão entre os poucos governos do mundo que mantêm relações formais com Mianmar, inclusive vetando resoluções que venham a condenar a brutalidade dos atos contra opositores e a população civil em geral, como no caso de dezembro de 2022.

Inicialmente, o golpe de Estado foi recebido com reprovação pela China, que vinha dialogando para firmar acordos comerciais com o governo eleito e perdeu financeiramente com a queda. Mas o cenário mudou rapidamente. Para não se distanciar da junta, Beijing classificou a prisão de Suu Kyi e de outros funcionários do governo como uma “remodelação de gabinete”, palavras usadas pela agência de notícias estatal Xinhua.

A China é um também dos principais fornecedores de armas para a juntar militar, desrespeitando um pedido de embargo global feito pela ONU para enfraquecer o regime birmanês. Há indícios de que as forças locais seguem se equipando com novos armamentos chineses, tendo ainda como fornecedores complementares a Rússia e o Paquistão.

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