Beijing estabelece nomes em chinês para 30 locais em região da Índia reivindicada

Medida é parte da reivindicação de praticamente toda a área pelo governo da China, segundo o qual ela faz parte do sul do Tibete

O governo da China anunciou nesta semana que atribui nomes em chinês para 30 localidades dentro da região de Arunachal Pradesh, que fica dentro do território da Índia e é reivindicada quase na totalidade por Beijing. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).

A China, que se refere ao território como Zangnan, afirma que Arunachal Pradesh faz parte do sul do Tibete, enquanto a Índia defende que a região sempre fez parte do país. A disputa ilustra as tensões crescentes ao longo da fronteira de 3,5 mil quilômetros entre as nações mais populosas do mundo.

Como parte do processo de reivindicação territorial, Beijing resolveu divulgar as nomenclaturas em chinês de 30 locais, quarta vez que uma medida do gênero é adotada desde 2017. Trata-se de uma prática comum não apenas para a região indiana, mas também para outras posições reivindicadas pela China no mundo todo.

O anúncio gerou reação do lado indiano. “Se hoje eu mudar o nome da sua casa, ela se tornará minha?”, questionou o Ministro das Relações Exteriores da Índia, S Jaishankar. “Arunachal Pradesh é um estado da Índia. Foi, é e continuará a ser um estado da Índia. Mudar os nomes não significa nada.”

Vila indiana em Arunachal Pradesh, na fronteira com a China (Foto: WikiCommons)

Entre os locais que foram batizados pela China estão 11 áreas residenciais, quatro rios e 12 montanhas, segundo anunciou o Ministério dos Assuntos Civis chinês. As listas anteriores foram divulgadas em 2017, 2021 e 2023, e no total já são mais de 60 locais dentro do território indiano batizados com nomes em chinês.

Mesmo regiões que são oficialmente consideradas território chinês foram rebatizadas, o que analistas entendem ser uma forma de reescrever a história, apagar a cultura local e impor a chinesa. Acontece, por exemplo, no Tibete, ao qual Beijing prefere se referir pelo nome em chinês mandarim, Xizang.

Em novembro do ano passado, o acadêmico alemão Adrian Zenz, especializado em questões ligadas ao trabalho forçado e à assimilação forçada na China, declarou à revista Newsweek que a estratégia é caracterizada como um genocídio cultural gradual.

Por que isso importa?

A disputa territorial entre China e Índia em Arunachal Pradesh persiste há décadas, apesar de esforços diplomáticos e econômicos entre as duas nações para solucionar o impasse. Em 2017, houve tensões na travessia de Nathu La, no Himalaia, onde guardas de fronteira de ambos os lados se confrontaram.

disputa pela fronteira entre China e Índia começou em 1962, em meio à guerra entre os dois países. No final dos anos 1980, o então primeiro-ministro indiano Rajiv Gandhi buscou reestabelecer os laços com Beijing.

As tensões voltaram a aumentar após medidas tomadas pelas autoridades indianas, como o apoio às demandas por autonomia do Tibete, a crescente cooperação de defesa com EUA, Japão e Austrália, e restrições de investimentos chineses na Índia.

A relação atingiu seu pior momento em  abril de 2020, quando soldados rivais se envolveram em combates em vários pontos da área montanhosa que divide os dois países. O problema começou com uma troca de acusações sobre desrespeito à Linha de Controle Real.

Então, em 15 de junho de 2020, a paz foi definitivamente quebrada e houve confronto entre soldados indianos e chineses em Ladakh. Na ocasião, 20 soldados indianos e quatro chineses morreram em combates corporais entre as tropas das duas nações. O confronto envolveu basicamente paus e pedras, sem nenhum tiro ter sido disparado.

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