Mais de 250 trabalhadores estrangeiros, incluindo dois brasileiros, foram resgatados de centros de fraude de telecomunicações no estado de Karen, em Mianmar, e levados para a Tailândia. A operação foi conduzida pelo Exército Beneficente Democrático Karen (DKBA, das sigla em inglês), uma das facções armadas que controlam a região. As autoridades tailandesas agora avaliam se essas pessoas foram vítimas de tráfico humano. As informações são da BBC.
A maioria dos resgatados é de países da Ásia e da África, e muitos teriam sido atraídos com promessas de empregos bem remunerados. No entanto, ao chegarem, eram forçados a trabalhar em golpes virtuais, como fraudes financeiras, esquemas amorosos conhecidos como “abate de porcos” e operações ilegais com criptomoedas. Alguns foram impedidos de sair e só poderiam ser libertados mediante o pagamento de resgates exigidos de suas famílias. Há relatos de tortura entre os que tentaram escapar.

A operação ocorre em meio a uma pressão crescente da Tailândia e da China para desmantelar essas redes criminosas. Na semana passada, o primeiro-ministro tailandês, Paetongtarn Shinawatra, reuniu-se com o presidente chinês, Xi Jinping, e prometeu fechar os centros de fraude que proliferaram na fronteira entre Tailândia e Mianmar. O governo tailandês já havia tomado medidas para dificultar a atuação dessas organizações, como interromper o fornecimento de energia e combustível para a região e endurecer as regras bancárias e de concessão de vistos.
Na terça-feira, o Departamento de Investigação Especial da Tailândia, equivalente ao FBI dos Estados Unidos, pediu a prisão de três comandantes do União Nacional Karen (KNU, da sigla em inglês), outro grupo armado envolvido com os esquemas fraudulentos. Entre eles está Saw Chit Thu, senhor da guerra Karen que, em 2017, firmou um acordo com uma empresa chinesa para a construção de Shwe Kokko, uma cidade que se acredita ter sido financiada por operações criminosas.
Embora a empresa responsável pelo projeto, Yatai, afirme que não há mais atividades ilícitas em Shwe Kokko, moradores relataram que os golpes continuam ocorrendo na região. Um trabalhador entrevistado pela reportagem confirmou a continuidade dos esquemas fraudulentos.
Diante da pressão internacional, o DKBA e Saw Chit Thu anunciaram que estão expulsando os operadores de golpes de seus territórios. O comandante do DKBA entrou em contato com um parlamentar tailandês para organizar a transferência dos trabalhadores resgatados, que, além do Brasil, incluíam cidadãos da Etiópia, Quênia, Filipinas, Malásia, Paquistão, China, Indonésia, Taiwan, Nepal, Uganda, Laos, Burundi, Bangladesh, Nigéria, Tanzânia, Sri Lanka, Índia, Gana e Camboja.