Os centros de apoio à vítimas de violência doméstica no Pacífico enfrentam hoje um desafio duplo: a pandemia do novo coronavírus e os desastres naturais que atingem a região, segundo relatos coletados pela ONU Mulheres.
Após vários desastres naturais e emergências, os espaços já sabiam que os índices e a gravidade da violência doméstica aumentam durante crises. Por isso, antes mesmo do agravamento da pandemia, os centros de apoio já se preparavam para lidar com a Covid-19.
Os seis centros do Pacífico — em Fiji, Tonga, Vanuatu, Ilhas Salomão, Kiribati e Samoa — anteciparam as ações de resposta. Em janeiro, Tonga e Fiji cancelaram viagens de seus funcionários para traçar estratégias de enfrentamento.
Assim que a OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou a doença como pandemia em 11 de março, os dois centros passaram a divulgar de forma intensa os números de linhas de ajuda nos meios de comunicação. Pela primeira vez, também passaram a oferecer apoio virtual.
Desde o início da pandemia, o número de atendimentos à vítimas de violência de gênero aumentou. Em Fiji, por exemplo, foram 527 chamadas em abril, em comparação a 187 em março e 87 em fevereiro.
Segundo a ministra da Mulher, da Criança e do Alívio à Pobreza de Fiji, Mareseini Vuniwaqa, 75% das mulheres relataram violência física. Isso inclui agressões graves, como golpes com pedras e madeira.
Em Samoa, o aumento das ligações nas linhas de ajuda foi de 150% em relação ao mesmo período do ano passado. Em Tonga, o crescimento foi de 54%.
Desastres naturais
Além da pandemia, ainda é preciso enfrentar os desastres naturais. Em abril, Fiji, Ilhas Salomão, Tonga e Vanuatu foram atingidos pelo ciclone Harold.

Em Vanuatu, o ciclone chegou com categoria 5, causando graves impactos. Em Tonga, uma das filiais dos centros de apoio foi destruída.
Segundo a coordenadora do Centro Feminino de Vanuatu, Merilyn Tahi, as mulheres da região estão mais preocupadas em sobreviver após a passagem do ciclone. Por isso, os pedidos de ajuda relacionados à violência de gênero não são prioridade.
Mesmo assim, há relatos de violência doméstica e abuso sexual. Tahi acredita que quando as necessidades básicas dessas mulheres forem supridas, os relatos voltarão a aumentar.
Entre os desafios relatos no enfrentamento à violência contra mulheres em várias regiões do Pacífico, estão as respostas lentas da polícia e do Judiciário, a não inclusão de meninas e mulheres nos planos de resposta e a falta de coordenação entre os serviços sociais.