China apoia operações de retirada em meio a conflitos no norte de Mianmar

Cerca de 260 cidadãos tailandeses foram evacuados através do território chinês em meio à escalada do conflito entre junta e rebeldes

Nesta segunda-feira (20), a China anunciou que, visando evitar conflitos, facilitou a evacuação de cidadãos de “certos” países da região norte de Mianmar, utilizando seu território. No começo deste mês, houve um aumento nas hostilidades entre grupos birmaneses armados e a junta militar no estado de Shan, próximo da fronteira entre os países. As informações são da agência Reuters.

Nesse cenário, cerca de 260 cidadãos tailandeses, presos devido ao aumento da violência na região, estão sendo evacuados de volta ao país natal através da China.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, afirmou que Beijing continuará mantendo comunicação com outros países envolvidos e fornecendo assistência.

Ela informou que a China recentemente disponibilizou instalações de “entrada e saída” a cidadãos de algumas nações que buscaram apoio. Nesse contexto também foi noticiada a evacuação de um cidadão de Singapura da região afetada pelo conflito.

“Num espírito humanitário, a China facilitou o trânsito dos seus cidadãos através do território chinês a partir do norte de Mianmar”, disse Mao, conforme repercutiu a embaixada chinesa na Tailândia.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning (Foto: Ministry of Foreign Affairs of the People’s Republic of China/Divulgação)

Os tailandeses foram evacuados dos campos de batalha na cidade de Laukkaing, conforme relatado pelo jornal local Bangkok Post, citando o Ministério das Relações Exteriores. A pasta detalhou que as autoridades de Mianmar conduziram os cidadãos tailandeses de Laukkaing até a fronteira com a China, onde tiveram entrada facilitada.

Paralelamente, o governo chinês assegura estar monitorando de perto a segurança no norte de Mianmar, oferecendo assistência contínua aos seus cidadãos. Uma das medidas tomadas por Beijing foi impor uma proibição de viagens para o norte do território birmanês.

A ONU (Organização das Nações Unidas) reportou que o recente conflito no estado de Shan se estendeu para as áreas noroeste e sudeste do país, assim como para o estado de Rakhine, desde o final de outubro, resultando no deslocamento de mais de 200 mil pessoas.

Junta enfraquecida

Os militares de Mianmar, que assumiram o controle por meio de um golpe de Estado em 2021, estão perdendo o controle de diversas cidades em todo o país. Esse enfraquecimento ocorre em meio a uma ofensiva coordenada lançada no mês passado por uma aliança composta por três grupos étnicos minoritários e combatentes pró-democracia.

Enquanto isso, o Exército da Aliança Democrática Nacional de Mianmar (MDNAA, da sigla em inglês), o Exército de Libertação Nacional de Ta’ang (TNLA) e o Exército Arakan (AA) declararam ter assumido o controle de diversos postos avançados e quatro cidades na região, em operações iniciadas no começo deste mês.

Esses avanços resultaram no bloqueio de rotas comerciais cruciais para a China, acentuando ainda mais a complexidade do conflito na área.

Recentemente, Myint Swe, o presidente em exercício do governo militar de Mianmar, alertou que o país “será dividido em várias partes” depois de as suas Forças Armadas terem sofrido recentemente enormes perdas territoriais para os combatentes da resistência.

China acusada de abastecer junta

Em relatório entregue às Nações Unidas no ano passado, Tom Andrews, ex-Congressista nos EUA e atualmente relator do escritório de direitos humanos da ONU, criticou ChinaRússia e Sérvia por venderem armamento ao violento regime militar de Mianmar e pediu ao Conselho de Segurança que adote medidas para controlar tal ação.

No documento, Andrews também citou Estados que autorizaram a transferência de armas desde 2018, período em que os militares são acusados de crimes contra a minoria étnica Rohingya. Atualmente, as armas vendidas pelas três nações citadas são usadas pelos militares na repressão imposta à população civil desde o golpe de Estado de fevereiro de 2021.

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