China intensifica presença militar em águas próximas a Taiwan com maior frota em décadas

Movimento naval visa afirmar domínio na região e reforçar reivindicação territorial sobre a ilha democrática

O Ministério da Defesa de Taiwan alertou nesta terça-feira (10) para a maior mobilização naval chinesa na região em quase 30 anos, com navios de guerra posicionados entre ilhas do sul do Japão e o Mar da China Meridional. A movimentação ocorre em meio a tensões crescentes após o retorno do presidente taiwanês Lai Ching-te de uma viagem diplomática ao Pacífico. As informações são da Reuters.

Sun Li-fang, porta-voz do Ministério da Defesa taiwanês, afirmou que a escala da mobilização militar é sem precedentes desde 1996, quando a China realizou exercícios bélicos antes das eleições presidenciais em Taiwan. “O tamanho atual é o maior comparado aos quatro exercícios anteriores. Independentemente de terem anunciado ou não, eles representam uma grande ameaça para nós”, declarou.

Além disso, autoridades taiwanesas detectaram 47 aeronaves militares e 12 navios de guerra chineses operando em torno da ilha nas últimas 24 horas. De acordo com um oficial de inteligência, parte das aeronaves simulava ataques contra embarcações navais estrangeiras e praticava manobras de bloqueio.

Hsieh Jih-sheng, oficial de inteligência do Ministério da Defesa, destacou que a China está construindo duas “paredes” no Pacífico. “Eles estão enviando uma mensagem muito clara com essas duas barreiras: transformar o Estreito de Taiwan em um mar interno da China”, afirmou.

Lai Ching-te, presidente de Taiwan, agosto de 2024 (Foto: Flickr/governo de Taiwan)

A estratégia chinesa, que inclui a concentração de cerca de 90 navios militares e da Guarda Costeira, parece focada em negar o acesso de forças estrangeiras à região, conforme explicou Hsieh. Ele ressaltou que o objetivo vai além de Taiwan e busca intimidar outros países no entorno do Pacífico Ocidental.

Embora a China não tenha confirmado exercícios militares oficiais, Taiwan elevou o nível de alerta e está monitorando as áreas de exclusão aérea reservadas pela China. Até o momento, não foram registrados exercícios com fogo real, mas o aumento da atividade é considerado “alarmante” pela inteligência taiwanesa.

A postura agressiva de Beijing reflete sua rejeição à independência de Taiwan, vista pelo governo chinês como uma questão central de seus interesses estratégicos. Em contrapartida, o presidente Lai reforçou que “somente o povo de Taiwan pode decidir seu futuro”, rejeitando as reivindicações chinesas de soberania.

A intensificação das operações militares ocorre também em um momento de renovadas tensões entre China e Estados Unidos, com Washington sendo repetidamente advertida a não cruzar as “linhas vermelhas” traçadas por Beijing em relação à questão taiwanesa.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Desde então, a tensão cresce até que, em outubro de 2024, a China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha.

O treinamento mostrou que Beijing tem condições de impor um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Trata-se de uma hipótese que vem sendo levantada há tempos por analistas, pois permitira à China sufocar Taiwan sem necessariamente iniciar uma guerra. Se colocada em prática, a medida aceleraria o consumo de materiais essenciais e levaria Taiwan ao colapso, jogando para os aliados ocidentais a decisão de abrir fogo ou não.

Apesar das alternativas apresentadas nas recentes manobras militares, uma invasão militar segue no radar chinês. “Estamos dispostos a lutar pela perspectiva de reunificação pacífica com a máxima sinceridade e empenho”, disse Chen Binhua, porta-voz do Gabinete de Assuntos de Taiwan na China, citado pela agência Reuters. “Mas nunca nos comprometeremos a renunciar ao uso da força”, adicionou.

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