China opera mais de cem sites de notícias falsas em 30 países, inclusive o Brasil, aponta estudo

Grandes plataformas de mídia social têm apertado o cerco contra redes de contas associadas a operações de influência originárias da China

De acordo com uma uma pesquisa publicada na quarta-feira (7) pelo Citizen Lab, um laboratório de cibersegurança da Universidade de Toronto, no Canadá, websites chineses estão se passando por veículos de notícias locais em várias partes do mundo para disseminar conteúdo pró-Beijing. Entre as nações em destaque aparece o Brasil, o sexto principal alvo do governo chinês.

O estudo, repercutido pela revista Newsweek, chega em meio ao aumento da utilização da mídia estatal chinesa e de canais não oficiais para propagar a mensagem do Partido Comunista Chinês (PCC) em todo o mundo. Nos últimos meses, grandes plataformas de mídias sociais como o Facebook têm fechado redes de contas envolvidas em operações de influência vinculadas à China.

A campanha, apelidada de “Paperwall” pelo Citizen Lab, envolve uma rede de 123 sites operados a partir da China, que se passam por veículos de notícias locais em trinta países da Ásia, Europa e América Latina.

Fake News: China realiza campanha global de influência (Foto: Lewis Ogden/Flickr)

O estudo identificou que a campanha é atribuída à Shenzhen Haimaiyunxiang Media Co. Ltd., também conhecida como Haimai, uma empresa de relações públicas na China. A reportagem tentou contato com a embaixada chinesa em Washington para comentar o assunto, mas não obteve resposta.

Em novembro de 2023, a agência de espionagem da Coreia do Sul, conhecida como Serviço Nacional de Inteligência (NIS, da sigla em inglês), descobriu 38 sites de notícias em coreano que se suspeitava teriam conexões com empresas de relações públicas chinesas, a Haimai e a Haixun.

O NIS alegou que essa rede de sites de notícias falsas estava tentando influenciar a opinião pública, promovendo visões anti-EUA e pró-China.

Na Europa, sites chineses se camuflam com nomes regionais como “Eiffel” ou “Provence” para atrair leitores franceses, enquanto usam “Viking” para atingir a Noruega, revela o Citizen Lab.

Em outubro de 2023, o jornal italiano Il Foglio descobriu uma operação semelhante, pela qual uma rede de sites, sem correspondência com redações reais na Itália, difundia conteúdo questionável. Após investigação do Citizen Lab, confirmou-se que todos os sites estavam hospedados na Tencent Cloud, uma empresa chinesa.

Essas descobertas ressaltam o papel crescente das empresas privadas em operações digitais e o uso pelo governo chinês desses recursos. Em agosto de 2023, a Meta, empresa-mãe do Facebook, revelou uma campanha de influência chamada “spamouflage” (junção das palavras “spam” e “camuflagem”), originada na China e se espalhando por diversas plataformas.

A campanha tinha como alvo países, como Taiwan, EUA, Austrália, Reino Unido, Japão e pessoas falantes de chinês em todo o mundo.

Houve até casos de jornalistas criados por inteligência artificial (AI) para promover informações falsas e atender aos interesses do PCC, numa técnica conhecida como “deepfake.

Brasil

O estudo do Citizen Lab mencionou o Brasil, onde foram listados sete sites operados por Beijing. Este número coloca o país em sexto lugar na relação dos 30 afetados, atrás de Coreia do Sul (17), Japão (15), Rússia (15), Reino Unido (11) e França (10).

Em janeiro de 2021, o Facebook revelou a remoção de duas redes brasileiras ligadas a comportamentos inautênticos coordenados. Uma dessas redes visava o estado do Espírito Santo, enquanto a outra estava focada no Paraná, detalhou uma publicação da ONG sediada em Washington Atlantic Council’s Digital Forensic Research Lab, que publicou o material na rede social Medium.

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