China sabatina cidadãos e confisca passaportes após viagens internacionais

Nas redes sociais, chineses relatam controle do governo para que pessoas não saiam do país, interrogatório e recolhimento de documentos

A guarda de fronteira em Guangzhou, cidade chinesa limítrofe com Hong Kong, intensificou o controle sobre os cidadãos chineses que chegam ao país. A fiscalização inclui sabatina quanto a atividades no exterior e tem resultado inclusive no confisco de passaportes, atos que ocorrem em meio a um cenário de vigilância contínua sobre pessoas que retornam à China, de onde foram aconselhadas a não sair. As informações são da rede Radio Free Asia.

No domingo (8) pela manhã, passageiros que chegaram a Guangzhou a bordo do voo China Southern CZ3082, vindo de Bangkok, na Tailândia, foram interrogados individualmente por funcionários da imigração no aeroporto, segundo relatou um dos passageiros em uma rede social.

Ele detalhou no post que os guardas de fronteira fizeram uma série de questionamentos aos recém-chegados, procurando saber o que eles estavam fazendo no estrangeiro, por que estavam voltando e se tinham planos de deixar a China novamente. Durante o interrogatório, alguns passageiros tiveram seus passaportes confiscados, disse o homem.

Saguão do Aeroporto Internacional de Guangzhou (Foto: WikiCommons)

O relato surge dias após a Administração Nacional de Imigração ter anunciado em uma entrevista que faria “revisões rigorosas” em documentos de viagem e vistos, tendo ainda pedido aos cidadãos chineses para que não saíssem do país, exceto em casos de extrema necessidade.

A determinação tem dado resultados, segundo o porta-voz do órgão estatal, Chen Jie. Ele disse à reportagem que as autoridades de imigração estão “mantendo o mais alto nível de prevenção e controle”, resultando em “níveis baixos” de passageiros de saída da China, seja via fronteiras ou aeroportos.

Um cidadão chinês identificado somente pelo sobrenome Zhang relatou que os guardas de fronteira têm confiscado passaportes como uma maneira de impedir que as pessoas deixem o país. Para isso, é necessário obter uma permissão despachada pela delegacia de polícia local.

“Basicamente, os guardas não querem que as pessoas saiam com passaportes chineses”, disse ele, que teve o documento cortado há três anos.

Estudos abortados

O controle imigratório tem impactado na vida de estudantes chineses que buscam formação em outros países. Há diversos relatos nas redes sociais que narram situações de pessoas que tiveram seus passaportes cortados enquanto tentavam embarcar em um avião. Também há casos de pessoas que tiveram suas solicitações de emissão de passaportes negadas.

“Isso mostra que o governo chinês está tentando reduzir o número de chineses que deixam o país”, disse um usuário à reportagem da RFA.

Um funcionário de uma consultoria de estudos no exterior identificado somente pelo sobrenome Huang disse que o governo suspendeu a permissão para que menores de idade na escola primária e secundária estudem no exterior. Na opinião dele, o regime tem receio de que as crianças sejam submetidas a “valores ocidentais” longe da China.

Devolução pós pandemia

Uma das alegações da China para o controle da saída de cidadãos do país é a Covid-19. Segundo a polícia da província de Hunan, local de nascimento do líder comunista Mao Tsé-Tung, os moradores receberam ordens de entregar seus passaportes às forças de segurança, sob a promessa de que seriam devolvidos “quando a pandemia acabar”.

A situação ocorre em meio a um aumento expressivo de pessoas que buscam maneiras de deixar a China ou obter o status de imigração no exterior.

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