China segue ampliando base militar no Camboja e constrói cais capaz de receber até porta-aviões

Beijing tem atualmente cesso a apenas uma instalação militar no exterior, na África. Se confirmado, este seria o segundo caso

Continuam a todo vapor as obras na base militar de Ream, no Camboja, financiadas pelo governo da China. As instalações ficam na cidade de Sihanoukville, no Golfo da Tailândia, uma posição estratégica no Indo-Pacífico. Segundo informações da rede Radio Free Asia (RFA), a mais recente adição foi um cais que permitiria a ancoragem de qualquer navio de guerra da frota chinesa, inclusive porta-aviões.

Imagens de satélite vêm sendo coletadas nos últimos meses pela empresa Terra Planet Labs para mostrar a evolução das obras na base. O projeto começou há cerca de dois anos, e nesse período a modernização e ampliação das instalações foi significativo.

Em fevereiro deste ano, Tom Shugart, membro sênior adjunto do think tank Centro para uma Nova Segurança Americana, com sede em Washington, analisou imagens e fez algumas observações. Segundo ele, na ocasião a base parecia ter recebido uma fábrica de cimento, que poderia ser usada para fornecer o material necessário ao projeto de expansão.

Agora, o analista diz que os registros mais recentes mostram “vários conjuntos de edifícios consideráveis, incluindo escritórios administrativos e quartéis.” Porém, segundo ele, a evolução mais relevante da obra é a construção de um “cais de calado profundo”, que teoricamente permitira o atracamento de navios de guerra de grande porte.

“Deve ser capaz de acomodar qualquer navio da frota da Marinha do ELP (Exército de Libertação Popular), incluindo seu novo porta-aviões Type 003”, disse Shugart. “Parece que muito progresso rápido está em andamento na construção desta base”, completou.

Cidade de Sihanoukville, no Camboja, onde a China financiou uma base militar (Foto: WikiCommons)
Pacto de segurança

Um acordo assinado entre os governos chinês e cambojano em 2019 autoriza Beijing a usar parte das instalações durante 30 anos, com a possibilidade de renovações automáticas do pacto a cada dez anos. Já o projeto de desenvolvimento conjunto da base foi confirmado em junho de 2022 por uma autoridade chinesa, segundo o jornal The Washington Post.

Phnom Penh, por sua vez, insiste em negar o pacto e alega que a base servirá somente às suas forças armadas. “Precisamos de uma base adequada para termos a chance de desenvolver nossa marinha e proteger nossa soberania”, disse em junho deste ano o ministro da Defesa Tea Banh. “Claro que tem gente que fala que nossa base estará aberta para tropas estrangeiras, mas isso não vai acontecer.”

Atualmente, o governo da China tem apenas uma base militar fora de seus territórios, no Djibuti, na África. Se confirmado o acesso dos militares chineses a Ream, esta seria a segunda presença militar do país no exterior, crucial para o país ampliar sua projeção de poder no Sudeste Asiático. Ainda fortaleceria a posição militar chinesa para o caso de uma guerra com Taiwan.

Por que isso importa?

A China ostenta o segundo maior orçamento de defesa do mundo, atrás somente dos EUA. Com o dinheiro investido nas forças armadas nos últimos anos, Beijing tem hoje a maior marinha do mundo, à frente da norte-americana, o maior exército permanente do mundo e um arsenal balístico e nuclear capaz de rivalizar com qualquer outro. 

A marinha chinesa tem dois porta-aviões ativos e 360 navios, no que supera inclusive os EUA, estes com 300 embarcações militares. Já o exército permanente chinês tem cerca de dois milhões de soldados, maior que o de qualquer outra nação. A Índia é a segunda maior força do tipo no mundo, com cerca de 1,4 milhão de tropas, contra 1,35 milhão dos EUA, de acordo com o site World Atlas.

arsenal nuclear da China também tem aumentado num ritmo muito maior que o imaginado anteriormente, levando a nação asiática a reduzir a desvantagem em relação aos Estados Unidos nessa área. Relatório recente do Pentágono sugere que Beijing pode atingir a marca de 700 ogivas nucleares ativas até 2027, tendo a meta de mil ogivas até 2030.

O investimento chinês levou a uma corrida armamentista na região da Ásia-Pacífico, onde os gastos com Defesa ultrapassaram US$ 1 trilhão somente em 2021, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres. Beijing puxa esses números para cima, tendo aumentado seu orçamento militar por 27 anos consecutivos, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo.

Em artigo publicado no jornal South China Morning Post em janeiro deste ano, Mark J. Valencia, analista de política marítima, comentarista político e consultor internacionalmente reconhecido com foco na Ásia, fez uma previsão alarmante para a região.

“A China e os EUA estão flertando com um desastre no Mar da China Meridional. Eles estão se apalpando como pugilistas no primeiro assalto. Até agora, eles evitaram uma colisão frontal, mas esta pode ser apenas a calmaria antes da severa tempestade militar”, disse ele no texto.

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