China reforma base para estabelecer presença militar no Camboja, diz jornal

Governos citam 'colaboração' para ampliar as instalações e negam que as forças armadas chinesas se estabelecerão ali

China e EUA adicionaram um novo tópico à já extensa lista de disputas estratégicas travadas pelas duas superpotências. Agora, a suspeita é de que Beijing esteja reformando uma base militar para uso de suas forças armadas no norte do Camboja. O jornal The Washington Post fez na segunda-feira (6) a revelação, que gerou um desmentido dos dois países asiáticos posteriormente.

A presença militar chinesa seria estabelecida na Base Naval Ream, no Golfo da Tailândia, uma posição estratégica no Indo-Pacífico. Isso permitiria ao país posicionar sua marinha a oeste do Mar da China Meridional e adicionaria um importante elemento à estratégia de expandir sua influência na região. As forças armadas chinesas já têm uma base no Djibuti, na África Oriental.

A presença militar no Camboja foi confirmada por uma autoridade de Beijing, destacando que apenas “uma parcela da base” será usada. Entretanto, a fonte desmentiu que as instalações serão exclusivamente ocupadas pelas forças armadas, vez que também haverá cientistas chineses ali.

Exército da China realiza exercício militar em agosto de 2021 (Foto: eng.chinamil.com.cn/Liu Fang)

De acordo com uma autoridade ocidental que confirmou a informação, a China usa uma combinação de coerção, punição e incentivos diplomáticos, econômicos e militares para forçar as nações da região a se curvarem a seus interesses. Assim, tenta se tornar hegemônica no Indo-Pacífico.

“Avaliamos que o Indo-Pacífico é uma peça importante para os líderes da China, que o veem como a esfera de influência legítima e histórica da China”, disse a autoridade. “Eles veem a ascensão da China lá como parte de uma tendência global em direção a um mundo multipolar, onde as grandes potências afirmam com mais força seus interesses em sua esfera de influência percebida”.

Acordo de ‘cooperação”

Ao desmentir a informação, o porta-voz do governo cambojano, Phay Siphan, disse que o país firmou um acordo “de cooperação” com Beijing para expandir a Base Naval Ream. E negou que haverá presença militar chinesa no local, de acordo com a agência Associated Press. Segundo ele, isso representaria uma violação da Constituição do Camboja: “Eu acho que é uma acusação forte”, afirmou.

Por sua vez, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, disse na terça-feira (7) que a cooperação com o Camboja refere-se à “renovação” da base e “visa a fortalecer a capacidade da marinha cambojana de manter a integridade territorial marítima e combater o crime marítimo”.

Resposta ocidental

A fim de conter a crescente influência da China no Indo Pacífico, o Quad, como é conhecido o Quadrilateral Security Dialogue (Diálogo de Segurança Quadrilateral, em tradução literal), tem investido em uma série de iniciativas para marcar presença na região. O grupo é composto por EUA, Japão, Índia e Austrália.

“Estamos apenas pedindo às pessoas na região que lembrem que os EUA e nossos parceiros e aliados têm sido o parceiro de escolha na implementação de segurança e paz desde o fim da Segunda Guerra Mundial”, disse um funcionário do Departamento de Estado norte-americano no final de maio.

Na ocasião, líderes das quatro nações se encontraram em Tóquio para discutir questões de interesse do Indo-Pacífico, entre elas o aprofundamento da cooperação em infraestrutura, tido como essencial para impulsionar a região.

A China e o Pacífico

Antes do Camboja, as Ilhas Salomão protagonizaram outro episódio que incomodou Washington e seus aliados no Indo-Pacífico. No caso, um pacto de segurança firmado entre a nação insular e a China gerou a especulação de que Beijing também construiria ali uma base militar.

Dando sequência ao projeto de ampliar sua rede de influência na área, a China negociou com dez nações locais um acordo de segurança e comércio que prevê, entre outras coisas, cooperação em redes de dados, segurança cibernética e sistemas alfandegários inteligentes.

O acordo poderia abrir espaço para as redes 5G da gigante chinesa das telecomunicações Huawei, impedida de construir cabos submarinos ou de operar redes móveis nas ilhas do Pacífico pela Austrália e pelos EUA devido a alegações de espionagem em favor de Beijing.

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