Paquistão tem atentado a bomba e protesto contra a forte influência da China

Além de uma crise hídrica, pescadores locais têm sofrido com a permissividade do governo federal aos pesqueiros chineses em Gwadar

Centenas de pessoas em Gwadar, cidade portuária no Paquistão, fizeram uma manifestação contra a pesca ilegal por traineiras chinesas neste domingo (22). O protesto contraria a decisão do premiê Imran Khan, que concedeu direitos de pesca aos arrastões chineses, informou a emissora indiana Zee News. Dois dias antes, na sexta-feira (20), um atentado a bomba endereçado a engenheiros chineses matou duas crianças e feriu três pessoas.

Participaram do ato pescadores e outros trabalhadores locais, que bloquearam as estradas com queima de pneus. Os manifestantes questionam a permissividade das autoridades aos pesqueiros da China, que estariam praticando pesca irregular e levando os peixes para o seu mercado local. Além disso, a cidade sofre uma crise hídrica e no abastecimento de energia elétrica. Duas pessoas ficaram feridas durante o protesto.

Não é a primeira vez que o povo de Gwadar expressa repúdio contra os arrastões chineses. Em julho, centenas de trabalhadores do setor pesqueiro, políticos e membros da sociedade civil foram às ruas exigindo o cancelamento das licenças de pesca para as embarcações da China, de modo a proteger a subsistência dos pescadores locais.

Pescadores locais de Gwadar têm sofrido com a permissividade do governo federal aos pesqueiros chineses (Foto: Moign Khawaja/Flickr – divulgação)

“Já faz mais de um mês, estamos protestando e nos unindo contra os arrastões chineses, a falta de água e energia elétrica. O governo nunca atendeu às nossas demandas e tivemos que observar uma paralisação completa e fomos atacados pela administração distrital ”, relatou Faiz Nigori, um trabalhador político local, à reportagem do jornal britânico The Guardian.

Atentado a bomba

Na sexta-feira (20), um atentado a bomba matou duas crianças e feriu três pessoas, entre elas um cidadão chinês. O ataque foi endereçado a um grupo de engenheiros chineses que rumavam ao porto, segundo um alto funcionário paquistanês.

A responsabilidade pelo ataque, empreendido por um homem-bomba, foi reivindicada pelo Exército de Libertação Balúchi (ELB), que acusa os chineses de explorar os recursos minerais da província. “O ELB realizou um ataque ‘abnegado’ contra um comboio de engenheiros chineses”, disse o grupo em um comunicado.

Além da pesca ilegal, a China está envolvida no desenvolvimento do porto de Gwadar, como parte da Nova Rota da Seda, uma iniciativa da China para espalhar sua influência através do investimento em projetos de todo o mundo, voltados sobretudo a infraestrutura e transporte.

Projeto bilionário e favorecimento

Os manifestantes alegam que o ministro da pesca da província e o governo federal, em vez de apoiar os interesses dos pescadores locais, dão declarações a favor dos pescadores chineses. Tal favorecimento teria relação ao projeto do Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC) no Paquistão, anunciado em 2015 no valor de US$ 60 bilhões de dólares, dos quais o Baluchistão é parte integrante.

A obra ligaria o porto de Gwadar, na província de Baluchistão, no Mar da Arábia, à região de Xinjiang, no oeste da China. O projeto inclui ligações rodoviárias, ferroviárias e oleodutos que incrementariam a conectividade entre a China e o Oriente Médio.

O povo baluch se opõe à vertiginosa influência chinesa na província. A justificativa é de que o projeto bilionário de infraestrutura não tem beneficiado a população local, enquanto outras províncias colhem os frutos. O desfavorecimento vem repercutindo em protestos generalizados, e os chineses são vistos como invasores a extrair as riquezas da região.

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