Com apoio dos EUA incerto, Japão desafia a China com manobras navais e reforça alianças

Destróieres japoneses cruzaram o Estreito de Taiwan pela primeira vez, enquanto Tóquio investe cada vez mais em dissuasão militar

Pela primeira vez, destróieres japoneses cruzaram o Estreito de Taiwan em duas ocasiões nos últimos meses, numa demonstração clara de que o Japão está disposto a desafiar diretamente as ambições militares da China no Indo-Pacífico. A movimentação ocorre em meio a sinais de ambiguidade por parte do governo dos EUA, sob a presidência de Donald Trump, quanto ao compromisso com seus aliados históricos na região. As informações são da rede Bloomberg.

A mudança na postura militar japonesa é evidente não só no aumento de gastos e manobras, mas também no discurso de figuras com longa trajetória nas Forças de Autodefesa. “O mundo mudou, e o povo japonês aceita que não podemos apenas permitir passivamente as ações da China,”afirmou Katsuya Yamamoto, ex-vice-almirante da Força Marítima japonesa.

Navios dos EUA e do Japão durante exercício Keen Sword, em 2020 (Foto: Official U.S. Navy Page/Flickr)

O risco de o Japão ser arrastado para um conflito envolvendo Taiwan preocupa cada vez mais autoridades japonesas. A proximidade geográfica entre os dois territórios reforça essa apreensão: a ilha de Yonaguni, a mais ocidental do Japão, está situada a apenas 113 quilômetros da costa taiwanesa. A tensão aumentou em fevereiro, quando veículos da imprensa japonesa divulgaram que um destróier do país havia cruzado o Estreito de Taiwan.

Em resposta, o governo chinês protestou. “A China respeita os direitos de navegação de todos os países conforme o direito internacional, mas se opõe firmemente a qualquer país que crie problemas no Estreito de Taiwan, infrinja a soberania e segurança da China e envie sinais errados às forças separatistas da ‘independência de Taiwan’”, declarou Zhang Xiaogang, porta-voz do Ministério da Defesa chinês.

Com o objetivo de ampliar sua capacidade de dissuasão, o Japão iniciou a recepção de 147 caças F-35 fabricados nos Estados Unidos, equipados com mísseis de cruzeiro de longo alcance. Além disso, o país desenvolve seus próprios armamentos e fortalece a presença militar em uma cadeia de ilhas ao sudoeste, onde já são instaladas novas bases voltadas para operações de “stand-off”.

Além de fortalecer sua estrutura militar, o Japão tem buscado aprofundar alianças estratégicas com outras democracias da região. Em abril, o primeiro-ministro Shigeru Ishiba esteve nas Filipinas, onde se reuniu com o presidente Ferdinand Marcos Jr. para iniciar negociações sobre o compartilhamento de suprimentos militares e ampliar a cooperação em segurança.

As conversas fazem parte de uma agenda mais ampla para reforçar a dissuasão regional diante das ameaças da China. “Se a dissuasão falhar, o preço a pagar será muito alto”, alertou Kocihi Isobe, general aposentado das Forças Terrestres de Autodefesa.

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