China adverte Japão e reacende tensão sobre Taiwan após troca de farpas diplomáticas

Tóquio nega declaração atribuída a premiê japonês e reforça impasse diplomático com Beijing a respeito a da ilha autogovernada

A crise diplomática entre China e Japão voltou ao centro das atenções depois que o principal diplomata chinês, Wang Yi, alertou publicamente Tóquio para não se envolver em questões relativas a Taiwan, o que poderia criar “problemas” para o governo japonês. A advertência foi feita em uma coletiva de imprensa durante o Congresso Nacional do Povo, em Beijing, com forte repercussão internacional. As informações são do jornal South China Morning Post.

A tensão se intensificou após o encontro entre Wang Yi e o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, em Tóquio. Dias depois, o governo japonês protestou formalmente contra uma nota oficial chinesa que teria atribuído ao premiê a frase de que o Japão “respeita as posições explicadas pelo lado chinês”. A chancelaria japonesa contestou a versão e negou que Ishiba tenha feito tal declaração.

O ministro de Relações Exteriores da China, Wang Yi (Foto: WikiCommons)

A visita de Wang, que reiterou o compromisso chinês com a reunificação de Taiwan e mencionou temas históricos sensíveis, ocorre em um contexto de crescente desconfiança entre os dois países. Beijing tem demonstrado preocupação com a possibilidade de Tóquio fortalecer sua aliança com Washington e, juntos, utilizarem Taiwan como peça de contenção contra a China.

Não é a primeira vez que Taiwan gera atritos entre os dois vizinhos. Viagens de autoridades taiwanesas ao Japão no passado, como a do ex-vice-premiê Hsu Li-teh e do ex-líder Lee Teng-hui, já haviam provocado protestos de Beijing. A percepção chinesa é de que Tóquio tem rompido com o espírito do comunicado conjunto assinado em 1972, quando o Japão declarou “entender e respeitar” que Taiwan é parte inalienável da China.

Além do simbolismo histórico, o fator geopolítico pesa. A proximidade geográfica com Taiwan — a ilha Yonaguni, no extremo oeste japonês, fica a apenas 110 quilômetros do território taiwanês — e a dependência de rotas marítimas vitais para a importação de energia tornam a estabilidade no Estreito de Taiwan crucial para o Japão. O receio de um eventual confronto militar levou o país a fortalecer suas capacidades defensivas, com apoio dos EUA.

No fim de semana, o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, declarou em Tóquio que “o Japão estaria na linha de frente de qualquer contingência que possamos enfrentar no Pacífico Ocidental e estamos juntos no apoio mútuo”. Segundo ele, o Pentágono começou a reestruturar as Forças dos EUA no Japão para criar um novo quartel-general conjunto com mais autoridade e pessoal para missões ampliadas.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

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