Coreia do Norte volta a testar míssil após um ano e reforça predisposição para atacar o Ocidente

Pyongyang afirma que disparo de artefato com capacidade nuclear alerta rivais da 'vontade de contra-atacar' em caso de ameaça

Após quase um ano de intervalo, a Coreia do Norte voltou a testar um míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês) nesta quinta-feira (31). O governo comunista classificou o artefato, que tem capacidade nuclear, como o “dissuasor estratégico mais poderoso do mundo” e mostrou predisposição em atacar o Ocidente caso o país se sinta ameaçado.

“O teste de fogo é uma ação militar apropriada que atende totalmente ao propósito de informar os rivais, que intencionalmente escalaram a situação regional e representaram uma ameaça à segurança de nossa República recentemente, de nossa vontade de contra-atacar”, disse Pyongyang através de sua mídia oficial. “Também constitui um processo indispensável no curso do desenvolvimento constante das forças de ataque estratégico de nosso Estado.”

O comunicado, assinado por um porta-voz do Ministério da Defesa Nacional, afirma que o teste é uma resposta ao “perigoso estreitamento da aliança nuclear pelos rivais” e a manobras militares “aventureiras” realizadas recentemente pelos EUA em parceria com a Coreia do Sul. Tal cenário, diz a Coreia do Norte, “destaca ainda mais a importância de fortalecer nossas forças nucleares”.

Kim Jong-un supervisiona míssil norte-coreano (Foto: KCNA News/divulgação)

O regime norte-coreano acrescenta no texto que as ameaças e desafios representados pela aliança ocidental determinam a ampliação e modernização de seu arsenal de destruição em massa e que “nunca mudará a linha de reforço de suas forças nucleares”.

De acordo com a agência Reuters, a Coreia do Sul afirmou que a Rússia possivelmente ofereceu ajuda a Pyongyang para o disparo, que serviu para testar o desempenho aprimorado do propulsor usado pelos ICBMs norte-coreanos. O objetivo é aperfeiçoar o armamento que, de acordo com os norte-coreanos, teria capacidade de atingir o território norte-americano em caso de conflito.

“A Coreia do Norte vai querer continuar recebendo ajuda como essa porque economiza tempo e custos, ao mesmo tempo que melhora o desempenho e atualiza a estabilidade do sistema de armas”, disse Shin Seung-ki, chefe de pesquisa sobre as Forças Armadas da Coreia do Norte no Instituto Coreano de Análises de Defesa, em Seul. “A intenção pode ser mostrar que não cederá à pressão, que responderá à força com força e também buscar alguma influência na eleição presidencial dos EUA.”

Desnuclearização “impossível”

A ampliação do arsenal nuclear norte-coreano é uma preocupação crescente do Ocidente. No final do ano passado, a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) disse ter detectado níveis crescentes de atividade em um reator nuclear do complexo de Yongbyon, na Coreia do Norte, indício de que o país trabalha para obter mais plutônio para armas nucleares.

Em comunicado, a AIEA disse que a movimentação em Yongbyon é “motivo de preocupação” e alertou que o desenvolvimento do programa nuclear norte-coreano “é uma violação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) e é profundamente lamentável”.

Paralelamente, existe uma escalada de tensão na Península Coreana, motivada sobretudo pelos seguidos testes de mísseis feitos por Pyongyang, que levaram os EUA e seus aliados a realizarem manobras militares voltadas a intimidar o regime comunista e assim tentar conter sua beligerância.

Em dezembro, a ONU fez um alerta à Coreia do Norte após mais um lançamento. No caso, o país testou um ICBM do tipo Hwasong-18, que voou uma distância de cerca de mil quilômetros e atingiu uma altitude de 6,5 mil quilômetros antes de cair no mar.

Bruce Bennett, analista sênior de defesa do think tank RAND Corporation, diz que um processo diplomático voltado à desnuclearização norte-coreana é visto hoje em Washington como “impossível”. E concorda que a dissuasão parece ser a estratégia mais aceita pelas autoridades norte-americanas.

“Essa mudança não significa que os EUA e a Coreia do Sul abandonaram a tentativa de negociar a desnuclearização, o que a Coreia do Norte se recusa firmemente a fazer, mas sim que nossos governos não veem mais a desnuclearização como uma solução viável para a ameaça de armas nucleares da Coreia do Norte”, afirma Bennett.

Tags: