‘Crianças gritavam como se uma guerra estivesse sobre nós’, conta vítima de tsunami

Pauline Vaiangina, o marido e quatro filhos conseguiram fugir para as montanhas a tempo de escapar das enormes ondas

A viagem de uma família tonganesa para visitar parentes na ilha de Mango no início deste mês se transformou em um pesadelo, quando o país foi devastado pela erupção do vulcão submarino Hunga Tonga Hunga Ha’apai, com um subsequente tsunami. No total, cerca de 84 mil pessoas, mais de 80% da população do pequeno reino do Pacífico Sul, foram afetadas pelo desastre, com três mortes confirmadas.

Pauline Vaiangina, o marido dela e os quatro filhos pequenos, que moram em Tongatapu, a principal ilha de Tonga, estavam visitando a avó na pequena ilha remota, quando o Hunga Tonga Hunga Ha’apai entrou em erupção.

“Foi um sábado como qualquer outro”, diz Pauline. Tínhamos acabado de comer peixe para o jantar e eu estava lavando os pratos, quando os cachorros latiam sem parar como se tentassem nos avisar de algo. Eles eram persistentes”.

De repente, eles ouviram explosões do vulcão que eram tão altas e tão intensas que puderam ser ouvidas e sentidas a mais de 800 quilômetros de distância, em Fiji.

Danos causados na capital de Tonga, Nuku’alofa, pela erupção do vulcão e subsequente tsunami em 15 de janeiro de 2022 (Foto: Unicef/Consulado do Reino de Tonga)

Após a segunda explosão mais alta, Pauline notou uma mudança desconhecida no movimento da maré. “Saía e voltava. Cada vez que a maré baixava, a praia ficava cada vez mais seca, e o nível do mar subia mais alto. Foi quando eu gritei: ‘Corram para a montanha!’ Gritamos para todos os vizinhos que fugissem para um terreno alto – as ondas e o vulcão eram tão barulhentos”.

Como Pauline havia adivinhado, um tsunami estava prestes a atingir a Ilha da Manga. Assim como o vulcão, os efeitos do tsunami se espalharam muito além de Tonga, com impactos sentidos até no Peru e na Califórnia, nos Estados Unidos.

O marido de Pauline carregou os quatro filhos até a montanha, voltando para carregar também a avó das crianças, de 80 anos. Enquanto eles estavam sentados sob um coqueiro, vendo cinzas e rochas caírem do céu, e enormes ondas quebrando sobre a ilha, praticamente todas as estruturas foram destruídas, deixando os moradores desabrigados.

Protegidos apenas por pequenas lonas e esteiras, todos que seguiam Pauline e sua família montanha acima se amontoavam durante a noite e cantavam hinos enquanto o vulcão rugia e relâmpagos iluminavam o céu.

“Só saímos da montanha na segunda de manhã”, contou Pauline. “Chegamos a uma ilha que foi completamente destruída. Tomamos banho de mar, procuramos alguma roupa restante. Neste ponto, estamos apenas gratos por estarmos vivos”.

Os números da destruição

  • O governo de Tonga e parceiros humanitários informaram na quarta-feira (26) que toda a população de Tonga (aproximadamente 105 mil pessoas) foi afetada pelas cinzas e pelo tsunami.
  • Pelo menos 62 pessoas originárias da Ilha Mango foram inicialmente evacuadas para a Ilha Nomuka e para Tongatapu. Os baixos números de fatalidades estão sendo atribuídos a um sistema de alerta precoce que funciona bem e a atividades de preparação bem-sucedidas.
  • No auge da crise, cerca de 3 mil pessoas tiveram que procurar abrigo em terrenos mais altos, seja com parentes e amigos ou em centros de evacuação, mas a grande maioria conseguiu voltar para casa.
  • O governo de Tonga e parceiros humanitários (as Sociedades da Cruz Vermelha de Tonga, ONGs internacionais, doadores e agências da ONU) estão realizando avaliações iniciais de danos e fornecendo assistência humanitária urgentemente necessária às pessoas.
  • O pessoal da ONU no terreno continua a apoiar os esforços de recuperação do governo tonganês no país, e as equipas da ONU em toda a região do Pacífico mobilizaram provisões de socorro imediato, incluindo, crucialmente, acesso a água potável, comunicação (internet e linhas telefónicas internacionais, telefones via satélite), kits WASH (Água, Saneamento e Higiene) e abrigo.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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