Crise em Mianmar é ‘catastrófica’, diz em assembleia enviada da ONU

Noeleen Heyzer alertou que a crise política, de direitos humanos e humanitária no país governado por militares está se aprofundando

Após retornar de missão em Mianmar, a enviada especial da ONU (Organização das Nações Unidas), Noeleen Heyzer, alertou na terça-feira (25) que a crise política, de direitos humanos e humanitária no país governado por uma junta militar está piorando e cobrando “um preço catastrófico ao povo”. As informações são da agência Associated Press (AP).

Falando ao comitê de direitos humanos da Assembleia Geral da ONU, Noeleen relatou que mais de 13,2 milhões de birmaneses não têm o suficiente para comer e 1,3 milhão estão deslocados de suas casas. Em meio a isso, militares que deram um golpe de Estado e tomaram o poder central em fevereiro de 2021 continuam bombardeando indiscriminadamente, destruindo casas e prédios e matando civis.

Segundo ela, a ONU está conduzindo amplos esforços para apoiar urgentemente o retorno ao governo civil, deposto após a líder democrática local Aung San Suu Kyi ser presa pelo regime. “Há uma nova realidade política em Mianmar: um povo exigindo mudanças, não mais disposto a aceitar o regime militar”.

Uma menina do lado de fora de sua casa, em um campo de deslocados em Mianmar (Foto: UNICEF/Minzayar Oo)

Heyzer também disse que, durante reunião em agosto com o comandante-chefe de Mianmar, Min Aung Hlaing, fez diversos apelos pelo fim dos ataques aéreos e da queima de infraestrutura civil, bem como a matança de civis, incluindo crianças, acabe.

Outro pedido feito aos militares é que libertem crianças e presos políticos, acabem com execuções sumárias e garantam o bem-estar de Aung San Suu Kyi.

Em um comunicado na quarta-feira, a Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático) citou o recente bombardeio da maior prisão de Mianmar e o ataque aéreo que matou pelo menos 60 pessoas, incluindo civis, durante um evento comemorativo realizado no norte do país por um grupo étnico rebelde no domingo (23) em Hpakant, no estado de Kachin.

Heyzer observou que, diante de uma situação forçará mais pessoas a fugir da violência de Mianmar, ela continuará pressionando a Asean com vistas a criar uma estrutura de proteção regional para refugiados e pessoas deslocadas à força.

“O recente retorno forçado de cidadãos de Mianmar, alguns dos quais foram detidos na chegada, destaca a urgência de uma resposta coordenada da Asean para enfrentar os desafios regionais compartilhados causados ​​pelo conflito”, acrescentou.

Já o alto comissário de direitos humanos da ONU, Volker Turk, pediu uma “moratória sobre qualquer retorno forçado de refugiados e migrantes” a Mianmar.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo já causou a morte de ao menos 1,5 mil desde o golpe de 1º de fevereiro de 2021, uma reação dos militares às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, o NLD venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu a presidente eleita Aung San Suu Kyi.

O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. Centenas de pessoas foram presas sem indiciamento ou julgamento prévio, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.

No início de dezembro, tropas da junta militar foram acusadas de assassinar 11 pessoas em uma aldeia no noroeste do país. De acordo com uma testemunha, as vítimas, algumas delas adolescentes, teriam sido amarradas e queimadas na rua. Fotos e um vídeo chocantes que viralizaram por meio de redes sociais à época mostravam corpos carbonizados deitados em círculo no vilarejo de Done Taw, na região de Sagaing.

A ação dos soldados seria uma retaliação a um ataque de rebeldes contra um comboio militar. Uma liderança local da oposição afirmou que os civis foram queimados vivos, evidenciando a brutalidade da repressão à população que tenta resistir ao golpe de Estado orquestrado em fevereiro deste ano.

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