Ataque aéreo em Mianmar mata 60 pessoas em show organizado por grupo rebelde

Organização de Independência Kachin diz que civis estão entre os mortos após ofensiva durante evento que marca a fundação da Organização da Independência de Kachin

Ataques aéreos coordenados pela junta militar de Mianmar mataram pelo menos 60 pessoas, incluindo civis, durante um evento comemorativo realizado no norte do país por um grupo étnico rebelde no domingo (23). As informações são do jornal britânico The Guardian.

O ataque dos militares contra a Organização de Independência Kachin (KIO, da sigla em inglês) foi realizada dentro de uma base onde o braço armado do grupo, o Exército da Independência de Kachin (KIA), realiza seus treinamentos.

A ofensiva ocorreu três dias antes de um encontro na Indonésia que irá reunir ministros das Relações Exteriores do sudeste asiático, ocasião em que a crescente violência no território birmanês, que sofreu um golpe de Estado em fevereiro de 2021, será colocada na mesa.

De acordo com o coronel Naw Bu, em relato à agência de notícias AFP nesta segunda-feira (24), dois jatos militares de Mianmar atacaram “um show organizado pelos insurgentes no Estado de Kachin por volta das 20h40. Cerca de 50 pessoas foram mortas, incluindo membros do KIA e civis”, disse ele, acrescentando que cerca de 70 ficaram feridas.

Ofensiva ocorreu perto da vila de Aung Bar Lay, no município de Hpakant (Foto: Twitter/Reprodução)

Os números conflitam com as mortes relatadas por um porta-voz rebelde, que estima mais de 60 baixas, além de 100 feridos. O ataque foi executado no primeiro dos três dias previstos na programação de um evento alusivo ao 62ºaniversário de fundação da Organização de Independência de Kachin (KIO) .

Um porta-voz da Associação de Artistas Kachin disse à agência Associated Press (AP) que aviões militares lançaram bombas por volta das 20h. Dois músicos que se apresentavam no concerto estão entre as vítimas fatais.

O Kachin News Group, veículo de comunicação pró insurgência, relatou o mesmo número de vítimas e afirma que os militares impediram que os feridos fossem tratados em hospitais de cidades próximas.

O escritório da ONU (Organização das Nações Unidas) em Mianmar disse em comunicado que está “profundamente preocupado e entristecido” pelos relatos dos ataques aéreos.

Já a Anistia Internacional (AI) alertou que o ataque demonstra um padrão de repressão crescente por parte do regime militar.

“Os militares mostraram um descaso implacável pelas vidas de civis em sua crescente campanha contra os oponentes. É difícil acreditar que os militares não sabiam de uma presença civil significativa no local deste ataque”, disse Hana Young, vice-diretora regional da AI.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo já causou a morte de ao menos 1,5 mil desde o golpe de 1º de fevereiro de 2021, uma reação dos militares às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, o NLD venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu a presidente eleita Aung San Suu Kyi.

O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. Centenas de pessoas foram presas sem indiciamento ou julgamento prévio, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.

No início de dezembro, tropas da junta militar foram acusadas de assassinar 11 pessoas em uma aldeia no noroeste do país. De acordo com uma testemunha, as vítimas, algumas delas adolescentes, teriam sido amarradas e queimadas na rua. Fotos e um vídeo chocantes que viralizaram por meio de redes sociais à época mostravam corpos carbonizados deitados em círculo no vilarejo de Done Taw, na região de Sagaing.

A ação dos soldados seria uma retaliação a um ataque de rebeldes contra um comboio militar. Uma liderança local da oposição afirmou que os civis foram queimados vivos, evidenciando a brutalidade da repressão à população que tenta resistir ao golpe de Estado orquestrado em fevereiro deste ano.

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