Critério adotado pela China reduz artificialmente o número de mortes por Covid

Apenas mortes por pneumonia ou insuficiência respiratória são contabilizadas, deixando de fora óbitos por doenças pré-existentes

O governo da China tem adotado uma estratégia que tende a reduzir artificialmente o número de mortes por Covid-19 oficialmente registradas no país. A confirmação foi feita por uma autoridade de saúde do país, que se manifestou em meio a um surto da doença que começou após Beijing afrouxar as radicais medidas de combate ao coronavírus. As informações são da agência Associated Press (AP).

Segundo Wang Guiqiang, chefe de doenças infecciosas do Hospital nº 1 da Universidade de Beijing, apenas as mortes causadas por pneumonia ou insuficiência respiratória são oficialmente contabilizadas como tendo sido causadas pela Covid-19. Assim, ficam fora das estatísticas oficiais as mortes de pessoas com doenças pré-existentes e infectadas pelo novo coronavírus.

A medida segue um padrão conservador adotado habitualmente na China, diferente do que faz a maioria dos demais países. Nos Estados Unidos, por exemplo, qualquer morte em que a Covid-19 tenha sido um fator determinante deve ser contabilizada como tendo sido causada pelo novo coronavírus.

Oficialmente, até agora, a China teve apenas 5.241 mortes causadas pela Covid-19. No atual surto, que teve início após o fim dos bloqueios nacionais, no início de dezembro, somente duas mortes foram oficialmente confirmadas. Devido ao critério adotado pelo governo, é provável que o número de óbitos seja consideravelmente maior.

Médicos e funcionários da saúde em Wuhan, na China (Foto: Divulgação/UN News/Sang Huachao)
Subnotificação

Os indícios de subnotificação no país têm se acumulado nos últimos dias. Há relatos de cidadãos de Xangai de que diversos idosos que teriam morrido em função da doença não foram contabilizados como vítimas da Covid-19, mesmo após terem testado positivo para a doença. No caso de pessoas que tinham doenças pré-existentes, foi a elas que se atribuiu oficialmente o óbito.

Nas redes sociais também há vários relatos de que cresceu bastante a demanda pelos serviços das funerárias, com pessoas dizendo que precisaram esperar até 24 horas para conseguir cremar o corpo de parentes. As buscas pela expressão “casas funerárias” também explodiu no Baidoo, o principal site de buscas chinês, segundo informou a rede CNN.

Na semana passada, um crematório na capital relatou que pelo menos 30 vítimas de coronavírus foram cremadas em um dia, segundo o jornal Financial Times (FT). “Nós cremamos 150 corpos, muito mais do que em um dia típico no inverno passado”, disse um funcionário da funerária estatal Beijing Dongjiao, que falou sob condição de anonimato. “Trinta ou 40 tiveram Covid”.

Outro sinal de que o problema é mais sério do que sugerem as estatísticas foi a suspensão da divulgação de dados oficiais dos casos assintomáticos, que representam a maioria dos registros. O governo admitiu que não era mais possível rastrear o número real de infecções devido ao fim das testagens em massa e da não obrigatoriedade de uso do aplicativo de monitoramento de saúde.

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