Dez pessoas são presas após acidente que matou cinco em obra chinesa em Bangladesh

Há suspeitas de que empreiteira China Gezhouba, responsável pelo projeto, colocou vidas em risco ao cortar custos na construção

Após um acidente em uma obra de trânsito ter matado cinco pessoas e ferido outras duas da mesma família na segunda-feira (15) em Dhaka, capital de Bangladesh, a polícia local prendeu dez suspeitos ligados ao projeto, conduzido por uma empresa chinesa. As informações são da rede Radio Free Asia.

A tragédia ocorreu após uma viga, que era erguida por um guindaste, ter despencado e caído em cima do carro que levava as vítimas. A construção é parte de um sistema de ônibus de trânsito rápido, ou Bus Rapid Transit (BRT, da sigla em inglês), em implementação, que irá conectar a região de Gazipur ao aeroporto internacional. O trabalho é de responsabilidade do Grupo Gezhouba, sediado em Wuhan, na China.

Segundo autoridades bangladenses, o desastre foi o terceiro acidente registrado ao longo dos 20,2 km da rota elevada desde março de 2021. O segundo com vítimas fatais de julho para cá.

Bangladesh é um dos países inseridos na  Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative), iniciativa lançada pelo presidente Xi Jinping para financiar obras de infraestrutura no exterior.

Viga de 60 toneladas caiu e matou cinco pessoas (Foto: Twitter/Reprodução)

Na terça (16), um relatório preliminar apresentado pela Divisão de Transportes e Rodovias do Ministério de Transportes Rodoviários e Pontes de Bangladesh responsabilizou a empresa chinesa pelo episódio.

Após a tragédia, uma operação conduzida pela polícia resultou nas prisões de dez pessoas em todo o país, segundo Khandaker Al Moin, diretor de comunicação do Batalhão de Ação Rápida (RAB, na sigla em inglês), um corpo de elite policial.

“Os presos incluem o operador do guindaste, seu assistente, funcionários da empresa chinesa responsáveis ​​pela supervisão do trabalho de construção e medidas de segurança, e funcionários da empresa que forneceu o guindaste, que tinha validade vencida”, explicou Moin.

O guindaste que tombou ao não suportar a viga tinha documentação expirada após estar em uso por pelo menos 26 anos. Os detidos alegam que ele ainda tinha capacidade para “levantar confortavelmente até 50 toneladas”.

Junto das cinco vítimas que perderam a vida estava um casal recém-casado, que sofreu ferimentos. Câmeras de segurança registraram o momento do acidente.

Um outro acidente grave já havia ocorrido há dois meses. Em julho, um guindaste caiu sobre um trabalhador que prestava serviços na mesma obra. Em março de 2021, seis trabalhadores, incluindo três cidadãos chineses, ficaram feridos em um acidente durante a colocação de uma viga quebrada em outro trecho da rota.

Corte de custos

Segundo o site de notícias local Bdnews24, entre os presos está Zulfikar Ali Shah, engenheiro de segurança nomeado pelo Grupo Gezhouba em 2021. Após levar Zulfikar, 39, e outras nove pessoas sob custódia, uma investigação apontou que ele tem apenas ensino médio completo, sem qualquer formação técnica.

De acordo com Moin, a empreiteira chinesa colocou vidas em risco para cortar custos. Uma investigação apurou que nenhuma barreira de segurança foi colocada próxima ao guindaste que derrubou a viga. Além disso, a empresa não teria designado pessoas suficientes para controlar o tráfego.

O governo de Bangladesh alega que o projeto é um financiamento próprio, embora a China tenha investido bilhões de dólares em empréstimos para outras obras de infraestrutura no país e esteja envolvida na construção de outros tantos.

Em coletiva de imprensa, Ullah Nuri, secretário da divisão de rodovias do Ministério de Transportes Rodoviários e Pontes, disse que uma equipe do Grupo Gezhouba havia chegado ao país e conduziriam sua própria investigação, colaborando com a apuração das causas pelas autoridades de Bangladesh.

“A equipe está preparada para ajudar o comitê de investigação formado pela Divisão de Rodovias de Transporte Rodoviário”, disse o embaixador da China em Bangladesh, Li Jiming, que expressou “profunda tristeza pelo desastre”, e disse que Beijing “não irá se opor a ações punitivas tomadas contra os responsáveis”.​

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