Diplomata exalta aliança EUA-Taiwan e diz que chance de guerra com a China é ‘pequena’

Embaixador de fato de Washington em Taipé afirma que a 'capacidade de dissuasão' dos aliados desencoraja uma agressão de Beijing

A chance de uma guerra total entre Taiwan e China, que consequentemente envolveriam também os EUA, é “pequena” neste momento. A avaliação é de Raymond Greene, diretor do Instituto Americano em Taipé, o embaixador de fato de Washington na ilha autogovernada.

“Embora certamente tenhamos como objetivo evitar uma guerra total, a probabilidade continua pequena, já que as reformas militares de Taiwan e as mobilizações militares dos EUA no Pacífico têm consistentemente reforçado nossas capacidades de dissuasão contra Beijing”, disse Greene, conforme relato do jornal South China Morning Post.

No final da semana passada, os EUA deram mais um passo para o fortalecimento das defesas da ilha com o anúncio de um pacote de US$ 2 bilhões que dará à ilha novos sistemas de defesa antiaérea e de radar. O Pentágono afirmou que a entrega, ainda sem data definida, ajuda Taiwan a modernizar suas Forças Armadas e manter uma capacidade defensiva confiável”.

Navios da Marinha dos EUA na região do Indo-Pacífico (Foto: WikiCommons)

O principal item do pacote, que foi celebrado pelo Ministério da Defesa de Taiwan, é o Sistema Nacional Avançado de Mísseis Superfície-Ar (NASAMS), que tem sido usado com com sucesso pelas forças da Ucrânia para se defender dos bombardeios da Rússia na guerra em curso na Europa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A avaliação de Greene, entretanto, vai ao encontro de projeções de analistas segundo os quais uma invasão militar é a última hipótese na lista de ações planejadas por Beijing. Inclusive, no recente exercício militar realizado pelo Exército de Libertação Popular (ELP), o principal foco foi no bloqueio aéreo e naval de Taiwan, que seria uma alternativa menos extrema de forçar o território à rendição.

O bloqueio, se colocado em prática, aceleraria o consumo de materiais essenciais, levando a ilha ao colapso. Não há estudos sobre o quão rápido o país conseguiria reagir à crise ou qual a capacidade de sobrevivência dos estoques de mantimentos, como água e alimentos, bem como de equipamentos de guerra.

Um documento lançado pelo governo taiwanês em 2020 pontuou que, diferente do bloqueio, a invasão criaria um “risco político e militar significativo” para Beijing. Avaliação semelhante à do almirante Karl Thomas, veterano oficial da Marinha norte-americana ouvido pelo The Wall Street Journal em setembro de 2022. Para ele, bloquear a ilha surge como uma opção menos danosa e igualmente efetiva.

“Eles têm uma Marinha muito grande. Se quiserem intimidar e colocar navios em Taiwan, podem fazer isso”, disse o militar na ocasião, concordando que a ação não letal colocaria as nações ocidentais, sob a liderança dos EUA, em uma encruzilhada quanto à melhor forma de punir a China.

Apesar de considerar a alternativa menos radical, uma invasão militar segue no radar chinês. “Estamos dispostos a lutar pela perspectiva de reunificação pacífica com a máxima sinceridade e empenho”, disse por ocasião dos recentes exercícios Chen Binhua, porta-voz do Gabinete de Assuntos de Taiwan na China, citado pela agência Reuters. “Mas nunca nos comprometeremos a renunciar ao uso da força”, adicionou.

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