Um número expressivo de estudantes chineses estão deixando a China em busca de oportunidades acadêmicas e empresariais no Sudeste Asiático. Malásia, Tailândia e Indonésia se tornaram destinos estratégicos graças a custos de estudo mais baixos, ensino em inglês e a possibilidade de atuar em negócios ligados à expansão do capital chinês na região. As informações são do South China Morning Post.
Kent Cai, empreendedor chinês da província de Zhejiang, decidiu no início deste ano se mudar para a Malásia para cursar um doutorado em aplicação de inteligência artificial (IA) na produção de mídia. Diferente de muitos colegas que optam por Estados Unidos ou Europa, Cai se juntou a uma crescente onda de estudantes chineses que buscam o Sudeste Asiático para estudar.

Segundo a Education Malaysia Global Services (EMGS), uma empresa pública da Malásia, vinculada ao Ministério da Educação Superior do país, os pedidos de estudantes chineses para vistos chegaram a 16.823 no primeiro semestre de 2025, superando os 10.670 do mesmo período em 2024 e os 8.948 de 2023. Dados da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) também apontam que a matrícula de chineses na Tailândia subiu de menos de 6,2 mil em 2016 para 28 mil em 2024.
Para Cai, a escolha vai além da educação. Ele já trabalha com empresas chinesas em avaliações de campo e planeja abrir uma start-up na Malásia, aproveitando a força de trabalho bilíngue e a IA para criar um centro de produção de conteúdo voltado ao mercado de língua chinesa.
“No Sudeste Asiático, as chances de captar capital de risco são maiores do que na China. Ser doutorando aqui facilita atrair investidores”, afirma.
O movimento reflete também mudanças entre famílias de classe média chinesas, que buscam alternativas acessíveis e seguras diante da desaceleração econômica do país e da complexidade geopolítica. Para jovens como Lucas Lu, de Zhejiang, estudar na Malásia ou em Singapura oferece mensalidades mais baixas, custo de vida acessível e estabilidade política, além de instituições reconhecidas internacionalmente.
Especialistas apontam que o impacto dos estudantes chineses se concentra em empresas e ecossistemas comerciais ligados à China. “A maioria retorna ao país de origem, limitando seu efeito político e social local”, explica Alfred Wu, professor associado da Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew da Universidade Nacional de Singapura.
Ainda assim, Phoon Wing Keong, do Huayan Policy Institute, um think tank sediado em Kuala Lumpur, destaca que o fluxo de estudantes trouxe vitalidade às instituições de ensino superior do país e criou uma ponte cultural e econômica entre China e Sudeste Asiático.
“Com a expansão do capital chinês, alguns desses estudantes podem se tornar novos grupos de classe média ou empresários locais, mas isso exige integração às culturas locais”, afirma.
Para muitos estudantes, a decisão é prática: além do ensino de qualidade e custo acessível, o Sudeste Asiático oferece oportunidades de trabalho e empreendedorismo que ainda não estão disponíveis na China, Reino Unido ou Europa.