A crise entre China e Filipinas, atrelada a uma disputa territorial no Mar da China Meridional, ganhou novos capítulos nos últimos dias, com os dois governos trocando acusações e Washington partindo em defesa do aliado em meio a ações cada vez mais agressivas de Beijing.
Segundo a rede CNN, Manila acusou a Guarda Costeira chinesa de realizar um “ataque brutal” contra barcos de borracha filipinos, que teriam sido apreendidos e depois rasgados com lanças e machados. A truculência teria ocorrido durante uma abordagem perto da Ilhas Spratly, alvo de disputa entre os dois países, com imagens exibidas na quinta-feira (20) para endossar a acusação.

Os barcos filipinos se dirigiam a um posto militar instalado em Second Thomas Shoal, um banco de areia reivindicado por Manila e Beijing. As Forças Armadas das Filipinas usam um navio encalhado como base militar no local, uma forma de sustentar a posição do país de que controla a área, localizada dentro de sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE).
A China, por sua vez, diz que o banco de areia está em território sob seu controle e exige que Manila remova a embarcação. Diante da negativa dos filipinos em deixar a área, os navios da Guarda Costeira chinesa passaram a assediar as missões de reabastecimento, e as ações têm se tornado cada vez mais violentas.
O episódio mais recente levou o governo das Filipinas a denunciar a apreensão não somente dos barcos, mas também de armas usadas pelos militares que faziam o reabastecimento. “Nossa ação agora é exigir que os chineses devolvam nossos rifles e equipamentos. E também exigimos que eles paguem pelos danos que causaram”, disse o general Romeo Brawner Jr..
A agência Associated Press (AP) afirma que ouviu dois oficiais filipinos com conhecimento do incidente, segundo os quais oito de seus homens ficaram feridos na abordagem. Um deles teria perdido o polegar devido à ação dos oficiais da China. Os feridos foram resgatados por navios que estavam na retaguarda observando a operação de entrega de suprimentos pelos botes de borracha.
Vista por Washington como um perigoso ato de escalada, a ação mais recente de Beijing levou o vice-secretário de Estado dos EUA, Kurt Campbell, a afirmar que o comportamento agressivo “ameaça a paz e a estabilidade regionais”. Ele ainda ressaltou que o governo norte-americano está preparado para respeitar o tratado de defesa mútua com as Filipinas, se assim considerar necessário, o que levaria o país a usar força militar contra um eventual ataque chinês.
Beijing, por sua vez, afirma que os marinheiros filipinos “são inteiramente responsáveis” pelo ocorrido, pois teriam “ignorado os repetidos avisos solenes da China” e se aproximado “perigosamente de um navio chinês em navegação normal, de forma pouco profissional, resultando em uma colisão.”
O jornal South China Morning Post diz que, segundo o governo chinês, os barcos filipinos carregavam inclusive material de construção, um sinal de que Manila talvez planeje construir uma base efetiva em Second Thomas Shoal em substituição ao navio encalhado.
“Os navios filipinos transportavam secretamente materiais de construção e até armas e equipamentos, e abalroaram deliberadamente os navios chineses”, disse Lin Jian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China. Ele acrescentou que tais atos “aumentaram claramente as tensões no mar e ameaçaram gravemente a segurança do pessoal e dos navios chineses.”
Por que isso importa?
Na última década, o Mar da China Meridional tem sido palco de inúmeras disputas territoriais entre a China e outros reclamantes do Sudeste Asiático, bem como de uma disputa geopolítica com os Estados Unidos quanto à liberdade de navegação nas águas contestadas.
Os chineses ampliaram suas reivindicações sobre praticamente todo o Mar da China Meridional e ali ergueram bases insulares em atóis de coral ao longo dos últimos dez anos. Washington deu sua resposta com o envio de navios de guerra à região, no que classifica como “missões de liberdade de operação.”
Embora os EUA não tenham reivindicações territoriais na área, há décadas o governo norte-americano tem enviado navios e aeronaves da Marinha para realizar patrulhas, com o objetivo de promover a navegação livre nas vias marítimas internacionais e no espaço aéreo.
Segundo John C. Aquilino, almirante da Marinha dos Estados Unidos e chefe do Comando Indo-Pacífico, a razão da presença de Washington na região é “prevenir a guerra por meio da dissuasão e promover a paz e a estabilidade, inclusive envolvendo aliados e parceiros americanos em projetos com esse objetivo.”
Já a atuação de Beijing, de acordo com o almirante, é preocupante. “Acho que nos últimos 20 anos testemunhamos o maior acúmulo militar desde a Segunda Guerra Mundial pela República Popular da China”, afirmou. “Eles avançaram todas as suas capacidades, e esse acúmulo de armamento está desestabilizando a região”.