Denunciados, funcionários da Huawei Índia podem pegar até dois anos de prisão

CEO da empresa e três funcionários do alto escalão são acusados de não fornecer os livros contábeis à Justiça quando solicitado

Um tribunal da Índia denunciou o CEO da Huawei no país, Li Xiongwei, e outros três funcionários do alto escalação da companhia chinesa de tecnologia por não terem entregado ao serviço de Imposto de Renda nacional os livros contábeis e outros documentos exigidos pela Justiça.

Em fevereiro, a Huawei foi alvo de buscas por parte das autoridades fiscais indianas, como parte de uma ação que acusa a companhia de evasão fiscal no país. Na ocasião, Li e os demais funcionários agora intimados não teriam colaborado com as autoridades.

As buscas foram realizadas ao longo de oito dias em sedes da empresa em Gurgaon e Karnataka e na residência de Li. Foram apreendidos documentos e aparelhos, além de registros eletrônicos em laptops, discos rígidos e celulares.

Os quatro indivíduos também são acusados de oferecerem respostas vagas ao prestarem depoimento, numa tentativa de dificultar o trabalho dos agentes enviados para obter a movimentação fiscal da empresa. A punição pode chegar a dois anos de prisão.

“Parece que os acusados ​​estavam apenas tentando confundir de alguma forma o oficial autorizado para negar o acesso aos livros de contas e outros documentos da empresa’, diz a ordem judicial. “Tempos excessivamente longos também foram procurados pelos acusados ​​para fornecer dados e informações, que deveriam estar prontamente disponíveis com a empresa”.

Prédio da Huawei no Canadá (Foto: Raysonho/Wikimedia Commons)
CEO sob vigilância

Li Xiongwei está impedido de sair da Índia após ter uma LOC (“circular de vigilância”, medida local que monitora a entrada e saída de indivíduos na mira de autoridades policiais) emitida contra si pelo governo local.

Li apelou ao Supremo Tribunal de Delhi para contestar a LOC, que ele alega ter causado um “grande golpe” em sua reputação “assim como na reputação da Huawei India”.

No dia 1º de maio, ele foi barrado antes de entrar em um voo no Aeroporto Internacional Indira Gandhi, em Nova Délhi. Ele estava a caminho de Bangkok, na Tailândia, onde participaria de uma reunião oficial de negócios. De acordo com a petição, seu cartão de embarque foi cancelado e as autoridades se recusaram a dar justificativas.

Por que isso importa?

Índia e China travam uma disputa territorial desde abril de 2020, quando soldados rivais se envolveram em combates em vários pontos da área montanhosa que divide os dois países, com acusações mútuas desrespeito à Linha de Controle Real (LAC, na sigla em inglês), a fronteira de fato entre as nações.

Essa disputa respinga na relação comercial entre os dois países e ajuda a explicar o fato de a Justiça indiana ter fechado o cerco contra a Huawei.

Os vizinhos compartilham uma fronteira não delimitada oficialmente de 3,5 mil quilômetros através do Himalaia e mantêm um acordo de paz instável desde o fim da guerra sino-indiana, em novembro de 1962.

Em 15 de junho de 2020, a paz na fronteira foi quebrada após novos confrontos entre soldados indianos e chineses no vale de Galwan, na região de Ladakh, na Índia. Na ocasião, 20 soldados indianos e quatro chineses morreram em combates corporais entre as tropas das duas nações. O confronto envolveu basicamente paus e pedras, sem nenhum tiro ter sido disparado.

Desde então, milhares de soldados estão posicionados dos dois lados da fronteira, e obras com fins militares tornaram-se habituais na região. As nações reivindicam vastas áreas do território alheio no Himalaia, problema que vem desde a demarcação de áreas pelos governantes coloniais britânicos.

Beijing e Nova Délhi mantiveram 14 rodadas de negociações desde os confrontos de junho de 2020. As conversas levaram à retirada de tropas em vários pontos ao longo da ALC, mas não de todos. E não foi possível chegar a nenhum acordo sobre a fronteira. Para especialistas, qualquer deslize de um dos lados pode levar a uma guerra entre as nações.

Tags: