Acusada de evasão fiscal, Huawei é alvo de buscas em suas instalações na Índia

Governo indiano tem empreendido uma cruzada contra a China, com veto a empresas do país e acusações de espionagem digital

As autoridades fiscais da Índia conduziram nos últimos dias uma série de buscas em instalações da empresa chinesa de telecomunicações Huawei. A ação é parte de uma ação que acusa a companhia de evasão fiscal no país, de acordo com o jornal local The Indian Express.

Nas buscas, os agentes do fisco indiano procuravam documentos, registros de contabilidade e outros dados, tanto de negócios da empresa na Índia quanto no exterior, que possam vir a contribuir para as investigações.

“Fomos informados da visita da equipe do Imposto de Renda ao nosso escritório e também de sua reunião com alguns funcionários. A Huawei está confiante de que nossas operações na Índia estão em total conformidade com todas as leis e regulamentos”, diz um comunicado divulgado pela empresa.

No ano passado, a Huawei ficou fora da lista de potenciais fornecedores de tecnologia para a rede 5G do país. A ZTE, tasmbém da China, foi igualmente excluída. A perda no caso é considerável, vez que o mercado indiano é o segundo maior do mundo em número de usuários de telefonia móvel.

E a cruzada do governo indiano contra empresas chinesas não termina aí. Em dezembro de 2021, as fabricantes chinesas de telefones Xiaomi e Oppo também haviam sido alvo de buscas em 11 Estados Indianos, igualmente acusadas de evasão fiscal.

Na última terça-feira (15), a Índia também baniu de seus celulares 54 aplicativos chineses por questões de privacidade, segurança e espionagem. Os aplicativos, que são clones de outros previamente removidos, têm brechas que permitem a coleta de dados confidenciais de usuários, secretamente transmitidos para a China.

Acusada de evasão fiscal, Huawei é alvo de buscas em suas instalações na Índia
Prédio da Huawei em ShenZhen, na China (Foto: Wikimedia Commons)

Por que isso importa?

Há uma desconfiança global que recai sobre a Huawei, baseada em teorias sobre sua proximidade com o governo chinês. Autoridades ocidentais citam a Lei de Inteligência Nacional da China, de 2017, segundo a qual as empresas nacionais devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que poderia forçar particularmente a gigante da tecnologia a trabalhar a serviço do Partido Comunista Chinês (PCC).

Em 2020, parlamentares britânicos afirmaram em um relatório que a Huawei está “fortemente ligada ao Estado e ao PCC, apesar de suas declarações em contrário”. Diante disso, a empresa tem enfrentado crescente desconfiança na construção de redes 5G em todo o mundo, com a implantação rejeitada em vários países. Austrália, Nova Zelândia, Portugal, Índia, EUA e Reino Unido baniram a infraestrutura da companhia por medo de ser usada para espionagem.

As especulações referentes aos produtos de vigilância da Huawei ganharam força no final de 2021 em meio a temores na China e no mundo sobre as consequências do uso maciço do reconhecimento facial e de outros métodos de rastreamento biométrico. E, ao mesmo tempo em que o PCC continua a confiar em tais ferramentas para erradicar a dissidência e manter seu regime de partido único, ele alerta sobre o uso indevido de tecnologias no setor privado.

Em 2021, após pressão de Beijing, a Huawei e outros gigantes da tecnologia foram compelidas a não abusar do reconhecimento facial e de outras ferramentas de vigilância, após uma nova lei de proteção de dados pessoais entrar em vigor. Mas o veto vale apenas para o setor privado. No setor público, o jornal The Washington Post revelou em dezembro que a ligação da Huawei com o aparato chinês de vigilância governamental é maior que o imaginado.

Os dados aparecem em uma apresentação de Power Point que estava disponível no site da empresa e foi removida. Repleto de itens “confidenciais”, o arquivo mostra como a tecnologia da empresa pode ajudar Beijing a identificar indivíduos por voz, monitorar pessoas de interesse, gerenciar reeducação ideológica, organizar cronogramas de trabalho para prisioneiros e rastrear compradores através do reconhecimento facial.

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