Justiça de Mianmar amplia de novo a pena de Suu Kyi e condena economista australiano

Sean Turnell, de 58 anos, foi consultor da líder democrática e já esta preso a 20 anos, o que leva a família a pedir que seja deportado

Um tribunal militar de Mianmar julgou e condenou a mais três anos de prisão, nesta quinta-feira (29), a líder democrática local Aung San Suu Kyi, presa pelo regime militar que governa o país desde o golpe de Estado de fevereiro de 2021. A mesma sentença recebeu um cidadão australiano, o economista Sean Turnell, segundo informações da agência Associated Press (AP).

Os dois foram julgados com base na lei de segredos de Estado, que também levou à condenação de três integrantes do gabinete da líder nacional pelos mesmos três anos de prisão. Já Turnell foi julgado por dois crimes, o segundo referente à lei de imigração.

A Justiça não divulgou maiores detalhes das acusações contra os réus, dizendo apenas que foram julgados com base em de Turnell apreendidos pelas autoridades e que ele teve acesso a “informações financeiras secretas do Estado”, tentando posteriormente fugir do país. Os advogados assinaram um termo segundo o qual se comprometem a não divulgar informações.

Aung San Suu Kyi, presa no golpe de Estado de fevereiro de 2021 em Mianmar (Foto: Wikimedia Commons)

Professor associada de economia na Universidade Macquarie, de Sydney, na Austrália, o economista de 58 anos foi consultor de Suu Kyi. Ele ele está preso há 20 meses e teria pouco mais de um ano a cumprir, o que leva os familiares a pedir que ele seja deportado para a Austrália.

“É de partir o coração para mim, nossa filha, o pai de 85 anos de Sean e o resto de nossa família saber que meu marido, professor Sean Turnell, foi condenado e sentenciado a três anos de prisão”, disse a mulher dele Ha Vu. “Sean é um dos maiores apoiadores de Mianmar há mais de 20 anos e trabalhou incansavelmente para fortalecer a economia de Mianmar”.

O australiano estava em Mianmar havia menos de um mês quando foi detido pelas junta militar. Na ocasião, havia retornado ao país asiático, proveniente da Austrália, para assumir um novo cargo no governo da Liga Nacional para a Democracia (NLD), partido de Suu Kyi que venceu a eleição de novembro de 2020 com esmagadora maioria legislativa.

O gabinete da ministra das Relações Exteriores da Austrália Penny Wong contestou a sentença, dizendo que ele foi “detido injustamente”. Camberra reporta ainda que seus diplomatas não foram autorizados a acompanhar a audiência, prometendo “aproveitar todas as oportunidades para defender fortemente o professor Turnell”.

A líder democrática, por sua vez, está sendo julgada há mais de um ano por várias acusações, desde corrupção e incitação até vazamentos de segredos oficiais, cuja sentença máxima combinada pode chegar a 190 anos de reclusão. Atualmente, as condenações dela já superam os 20 anos.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo já causou a morte de ao menos 1252 pessoas desde o golpe de 1º de fevereiro de 2021, uma reação dos militares às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, a NLD venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro de 2021, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu Aung San Suu Kyi, líder da sigla vencedora.

O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. Centenas de pessoas foram presas sem indiciamento ou julgamento prévio, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.

No início de dezembro, tropas da junta militar foram acusadas de assassinar 11 pessoas em uma aldeia no noroeste do país. De acordo com uma testemunha, as vítimas, algumas delas adolescentes, teriam sido amarradas e queimadas na rua. Fotos e um vídeo chocantes que viralizaram por meio de redes sociais à época mostravam corpos carbonizados deitados em círculo no vilarejo de Done Taw, na região de Sagaing.

A ação dos soldados seria uma retaliação a um ataque de rebeldes contra um comboio militar. Uma liderança local da oposição afirmou que os civis foram queimados vivos, evidenciando a brutalidade da repressão à população que tenta resistir ao golpe de Estado.

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