Ex-apresentadora da BBC é condenada a três anos de prisão em Mianmar

Htet Htet Khine foi acusada dos crimes de "incitação" e "associação ilegal" em função de seu trabalho jornalístico

A Justiça de Mianmar condenou a três anos de prisão a jornalista Htet Htet Khine, ex-apresentadora de um programa da rede britânica BBC no país asiático. Ela foi acusada dos crimes de “incitação” e “associação ilegal” em função de seu trabalho jornalístico, segundo a rede Radio Free Asia.

Htet Htet Khine está presa desde agosto de 2021 em uma penitenciária na cidade de Yangon. Ela trabalhou entre 2016 e 2020 como âncora de um programa que documentava o impacto da repressão na sociedade de Mianmar.

“Ela enfrentou bravamente o caso, que foi aberto sem nenhuma evidência”, disse um advogado a serviço da jornalista, que não se identificou por questão de segurança. “Ela foi acusada de incitar uma situação que já estava sob controle. A sentença foi proferida com base apenas no depoimento do autor”.

Junto com ela foi detido o repórter Sithu Aung Myint. Ele também está preso, acusado de “incitação” e “sedição”, por produzir conteúdo que as autoridades dizem ter criticado os militares atualmente no poder. As penas podem chegar a três anos de prisão pela primeira acusação e 20 pela segunda.

“Eu já esperava esse [resultado]. Eles foram presos injustamente e eu quero que eles sejam soltos o mais rápido possível”, disse um membro da família da jornalista que também não se identificou.

Htet Htet Khine, ex-apresentadora da BBC presa em Mianmar (Foto: reprodução/Facebook)
Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo já causou a morte de mais de duas mil pessoas desde o golpe de 1º de fevereiro de 2021, uma reação dos militares às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, a NLD (Liga Nacional pela Democracia) venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu a presidente eleita Aung San Suu Kyi.

O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. Centenas de pessoas foram presas sem indiciamento ou julgamento prévio, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.

Em dezembro de 2021, tropas da junta militar foram acusadas de assassinar 11 pessoas em uma aldeia no noroeste do país. De acordo com uma testemunha, as vítimas, algumas adolescentes, foram amarradas e queimadas na rua. Fotos e um vídeo chocantes que viralizaram nas redes sociais mostravam os corpos carbonizados deitados em círculo no vilarejo de Done Taw, na região de Sagaing.

A ação dos soldados seria uma retaliação a um ataque de rebeldes contra um comboio militar. Uma liderança local da oposição afirmou que os civis foram queimados vivos, evidenciando a brutalidade da repressão à população que tenta resistir ao golpe de Estado.

Em julho de 2022, a ONU voltou a condenar a brutalidade do regime após a junta militar executar quatro ativistas pró-democracia que haviam sido condenados à morte em julgamentos realizados a portas fechadas em janeiro e abril. Eles foram acusados de “atos terroristas” porque ajudaram insurgentes na luta contra o exército .

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