O monge tibetano Jampa Choephel foi julgado e condenado a 18 meses de prisão por usar as redes sociais para difundir uma mensagem do líder espiritual budista Dalai Lama. Tibetanos que vivem no exílio confirmaram a informação, que foi reproduzida pela rede Radio Free Asia (RFA).
Beijing classifica Tenzin Gyatso, o atual Dalai Lama em exílio na Índia, como um “separatista perigoso”. No lugar dele, foi reconhecido o atual Panchen Lama, instituído pelo Partido Comunista Chinês (PCC), como a mais alta figura religiosa do Tibete.
Mesmo a posse de fotos do Dalai Lama é considerada crime pela China, e a mensagem de Choephel foi tratada como conteúdo separatista. O texto foi compartilhado no dia 10 de março, data que marca a rebelião fracassada dos tibetanos contra o controle chinês ocorrida no ano de 1959. O monge foi preso pelas autoridades logo após colocar o material no ar.
Sob o argumento de que o caso trata de uma questão “extremamente sensível”, os familiares do monge não receberam qualquer informação prévia sobre o julgamento, que ocorreu em agosto. Preso há mais de seis meses, ele terá esse tempo contado como parte do cumprimento da sentença, o que deve mantê-lo no cárcere por mais um ano.
Paralelamente, familiares de Choephel passaram a ser monitorados pelas autoridades. Segundo uma das fontes ouvidas pela reportagem, que pediu anonimato por questões de segurança, a “vigilância constante criou um clima de medo e ansiedade” entre os familiares, que sequer se propõem a questionar o governo sobre o bem-estar do monge.
Por que isso importa?
A repressão chinesa no Tibete tem raízes históricas e remete a um conflito relacionado à soberania e à cultura. A ocupação chinesa em uma das regiões mais fechadas e politicamente sensíveis do país começou em 1950, quando as tropas do Exército de Libertação Popular (ELP) invadiram o Tibete e assumiram o controle, em um episódio que Beijing chama de “libertação pacífica”.
Então, em 1959, os tibetanos se insurgiram contra o domínio chinês, mas a artilharia de Beijing esmagou a resistência, executou os guardas do líder espiritual e destruiu mosteiros de Lhasa. Diante do cenário de destruição, o 14º Dalai Lama Tenzin Gyatso fugiu para a Índia.
Desde então, a China impõe uma violenta repressão aos tibetanos, um processo escorado no desrespeito aos direitos humanos que inclui a supressão da identidade cultural e religiosa tibetana, restrições à liberdade de expressão e detenções arbitrárias.
A China implementou políticas de assimilação cultural, incluindo a transferência forçada de tibetanos para programas de formação profissional e internatos estatais. As ações são semelhantes às que têm sido denunciadas em Xinjiang contra os uigures. Essas políticas geraram preocupações internacionais e críticas de organizações de direitos humanos.