Militar desertor planejava roubar helicóptero militar e entregá-lo à China, diz Taiwan

Oficial teria recebido uma promessa de US$ 15 milhões em troca da aeronave CH-47 Chinook, fabricada pela norte-americana Boeing

Promotores de Justiça de Taiwan revelaram nesta semana novos detalhes sobre o caso de um tenente-coronel das Forças Armadas locais preso desde agosto sob a acusação de traição. Ele planejava roubar um helicóptero militar que seria entregue ao governo da China em troca de US$ 15 milhões, segundo informações do jornal South China Morning Post.

Revelado há pouco mais de quatro meses pelo jornal Taipei Times, o caso foi agora confirmado pelo Ministério da Defesa Nacional taiwanês e teve novos detalhes divulgados. Inicialmente, o governo local afirmou apenas que o militar, identificado pelo sobrenome Hsieh, havia sido recrutado por Beijing para obter e repassar segredos de defesa nacional.

Helicóptero militar norte-americano modelo CH-47 Chinook (Foto: Anna Zverev/WikiCommons)

Os novos detalhes vieram à tona após o ministro da Defesa Chiu Kuo-chen confirmar o episódio durante depoimento a parlamentares. “Também me sinto magoado por ter descoberto um caso como este, e os alegados envolvidos devem ser tratados de acordo com a lei”, disse ele aos legisladores.

Hsieh era membro do Comando de Aviação e Forças Especiais das Forças Armadas e teria sido abordado por um grupo de agentes da inteligência chinesa liderado por um oficial aposentado do Exército taiwanês, identificado como Chen Yu-xin, também preso em agosto.

As negociações e o planejamento do roubo do helicóptero teriam ocorrido em Bangkok, na Tailândia, em junho, envolvendo ainda outros dois membros do Exército de Libertação Popular (ELP) da China. Não foi revelado qualquer indício de envolvimento de autoridades tailandesas no caso.

A intenção dos chineses era a de que Hsieh roubasse um helicóptero modelo CH-47 Chinook, fabricado pela norte-americana Boeing e avaliado em cerca de US$ 38 milhões. Em troca, o traidor receberia de Beijing US$ 15 milhões, quase metade do valor da aeronave.

Lançado em 1961 e até hoje é usada militarmente, o helicóptero seria conduzido por Hsieh até um porta-aviões chinês estacionado no Estreito de Taiwan.

“De acordo com as instruções dos agentes (chineses), o tenente-coronel Hsieh foi solicitado a pilotar o helicóptero em baixa altitude ao longo da costa até o porta-aviões comunista chinês, que realizaria exercícios perto das águas, a 24 milhas náuticas (44 quilômetros) de [Taiwan]”, disse a acusação.

O militar recusou uma proposta inicial dos chineses, alegando que a missão seria muito arriscada, mas acabou aceitando a oferta feita posteriormente. Além do pagamento milionário, familiares receberiam uma ajuda mensal de 200 mil novos dólares taiwaneses (R$ 31,4 mil) e ganhariam abrigo na Tailândia em caso de um conflito entre China e Taiwan.

Espionagem e anexação

Os casos de espionagem liderados pela China em Taiwan têm aumentado conforme cresce a tensão entre os dois governos e a expectativa por uma invasão por parte de Beijing, que considera a ilha como um de seus territórios.

A questão é tão delicada que o governo taiwanês chegou a romper em agosto um contrato que mantinha com uma empresa local, a Idano Co., porque ela utilizava peças chinesas na manutenção de veículos utilizados pelas Forças Armadas taiwanesas.

Segundo o Taipei Times, o Exército recebeu aval do Ministério da Defesa Nacional para romper o acordo de US$ 6,35 milhões (R$30,4 milhões) firmado em novembro de 2022. O fim do vínculo foi levado adiante apesar das críticas de parlamentares taiwaneses, que chamaram a atenção para a irrelevância da empresa contratada.

O acordo previa a manutenção de caminhões militares modelo Storm 3, fornecidos às Forças Armadas de Taipé pela Sanyang Motors, uma companhia local, e pela AEI, de Israel. O uso de peças chinesas, porém, foi visto com uma ameaça devido à possibilidade de espionagem.

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