Oficial das forças armadas de Taiwan é acusado de entregar segredos à China

Tenente-coronel do exército taiwanês teria sido recrutado por Beijing para repassar informações confidenciais de defesa nacional

Taiwan afirmou nesta quarta-feira (2) que um oficial de suas forças armadas foi preso sob a acusação de vazar segredos militares para a China. Junto com ele foi detido um segundo colaborador do esquema de traição, segundo informações do jornal Taipei Times.

O chefe do esquema foi identificado apenas pelo sobrenome Hsieh, um tenente-coronel do exército taiwanês que teria sido recrutado por Beijing para obter e repassar segredos de defesa nacional. O esquema também previa que o grupo espionasse militares ativos e aposentados.

Durante as investigações, diversos supostos cúmplices do esquema de traição foram interrogados e depois liberados sob fiança.

De acordo com Weng Wei-lun, ex-promotor de justiça que hoje atua como advogado, trata-se de um caso diferente e mais delicado para Taiwan. Em episódios anteriores de espionagem, a China buscava militares aposentados, mas agora conseguiu cooptar um oficial da ativa.

Soldados taiwaneses: tensão crescente com a China e alerta para possível invasão (Foto: WikiCommons)

Conforme cresce o temor por uma invasão das tropas de Beijing a Taiwan, que a China considera parte de seu território, a ilha autogovernada aumenta a vigilância para conter as ações de inteligência do inimigo.

A questão é tão delicada que Taiwan nesta semana rompeu contrato com uma empresa local, a Idano Co., porque ela vinha utilizando peças chinesas na manutenção de veículos utilizados pelas forças armadas taiwanesas.

Segundo o Taipei Times, o Comando do Exército recebeu aval do Ministério da Defesa Nacional para romper o contrato com a Idano Co., avaliado em US$ 6,35 milhões (R$30,4 milhões). O acordo foi firmado em novembro de 2022 apesar das críticas de parlamentares taiwaneses, que chamaram a atenção para a irrelevância da empresa contratada.

O acordo previa a manutenção de caminhões militares modelo Storm 3, fornecidos às forças armadas de Taipé pela Sanyang Motors, uma companhia local, e pela AEI, de Israel. Na época da compra dos veículos, os militares reclamaram da qualidade do produto, o que levou Taiwan a abrir concorrência nacional para manutenção.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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