Pressão estatal crescente na China afasta cada vez mais o investidor estrangeiro

Regime de Xi Jinping tem ampliado o escrutínio sobre as empresas, frustrando os esforços para atrair novos negócios

Investigações anticorrupção, ações justificadas pela segurança nacional e outras questões. Em meio a um cenário de rígido controle do governo Xi Jinping, ao mesmo tempo em que busca atrair investidores de volta à China após a pandemia de Covid-19 e sua rígida política sanitária, empresas estrangeiras têm sido fortemente pressionadas no país. As informações são da agência Associated Press.

Enquanto tenta reacender o interesse dos investidores pelo país, o Partido Comunista Chinês (PCC) tem ampliado o cerco político na economia, causando efeito contrário. 

Um exemplo do escrutínio ocorreu nesta semana no escritório de Xangai da Bain & Co., uma empresa de consultoria de gestão com sede em Boston que teve funcionários interrogados pela polícia chinesa. A firma norte-americana não deu detalhes sobre o teor das buscas. 

Prédio da farmacêutica japonesa Astellas Pharma Inc. na Alemanha (Foto: WikiCommons)

Em março, o Mintz Group, uma empresa de investigações corporativas que coleta informações antes das transações, relatou que seu escritório em Beijing passou por uma situação pior ao ser invadida por policiais. Cinco funcionários foram levados sob custódia na ocasião. 

Ainda no mês passado, um funcionário da farmacêutica japonesa Astellas Pharma Inc. foi preso sob acusações de espionagem. Além desses casos, a fabricante de chips de memória Micron Inc., com sede nos EUA, foi notificada pelo governo de que passaria por uma revisão de segurança.

Nesse contexto de pente-fino, grupos empresariais disseram que empresas globais estão repensando seus planos de investimento no país e têm redirecionado os negócios para outras economias no Sudeste Asiático e para a Índia, entre outro países.

“Em um momento em que a China está tentando restaurar a confiança dos negócios de forma proativa para atrair investimentos estrangeiros, as ações tomadas enviam um sinal muito confuso”, disse a Câmara de Comércio da União Europeia (UE) na China nesta sexta-feira (28), em um comunicado.

Enquanto isso, o Ministério das Relações Exteriores disse desconhecer casos como da Bain & Co., embora tenha defendido a aplicação da lei chinesa.

“A China dá as boas-vindas a empresas estrangeiras para investir e fazer negócios na China. Estamos empenhados em construir um ambiente de negócios internacionalizado, orientado para o mercado e baseado na lei”, disse o porta-voz do órgão governamental, Mao Ning. “Todas as empresas na China devem operar em conformidade com a lei.”

Em comunicado, a Bain & Co. confirmou a ocorrência.

“Podemos confirmar que as autoridades chinesas interrogaram funcionários em nosso escritório de Xangai. Estamos cooperando conforme apropriado com as autoridades chinesas”.

Tal panorama tem a agravante das relações deterioradas de Beijing com Washington, Europa e Tóquio, por conta de questões que envolvem Taiwan, segurança, tecnologia e direitos humanos. E particularmente a situação dos uigures. Mesmo assim, não sinaliza, efetivamente, uma represália, já que não há comprovação de que tal pressão governamental tenha motivação política. Além disso, empresas chinesas também foram alvo de ações severas do Ocidente.

Nesta semana, o Judiciário da China ampliou o escopo da lei de espionagem para dar às autoridades poderes para obter acesso a informações eletrônicas. A lei abrange todos os “documentos, dados, materiais e itens relacionados à segurança nacional”, disse a agência oficial de notícias Xinhua, embora não tenha dito como a segurança nacional é definida.

As empresas estrangeiras há anos aconselham os funcionários que visitam a China a não carregarem computadores ou telefones celulares com informações confidenciais porque podem ser apreendidos pelas autoridades ou roubados por espiões industriais.

Os esforços do governo de reverter um declínio no interesse comercial estrangeiro na China não estão reprimindo somente empresas de fora, segundo a reportagem. O PCC quer que as empresas estrangeiras de carros elétricos e outras áreas tragam tecnologia e ofereçam concorrência para forçar as empresas chinesas a melhorar.

Porém, a dificuldade de visitar a China, bem como custos mais altos e regulamentações mais complicadas, têm afastado do país os negócios estrangeiros.

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