Número de chineses em busca de asilo no exterior cresceu dez vezes no governo Xi

Somente em 2021, China teve mais solicitantes de asilo que nos últimos oito anos do governo do antecessor Hu Jintao

Desde que o presidente Xi Jinping assumiu o poder na China, em 2012, o número de cidadãos chineses que buscam asilo em países estrangeiros aumentou dez vezes. É o que apontam dados divulgados pela Acnur (Agência de Refugiados das Nações Unidas) na semana passada.

As estatísticas indicam que, um ano antes de o atual presidente assumir o poder, foram registrados 12 mil casos de chineses em busca de asilo. O número saltou para 15 mil em 2012 e desde então não parou de crescer. Em 2019, superou os cem mil pela primeira vez, com 104.248. E atingiu o ápice em 2021, com 118.476.

Em apenas um ano de governo Xi Jinping, 2021, a China teve mais solicitantes de asilo do que durante os últimos oito anos do governo de seu antecessor Hu Jintao. Desde 2012, cerca de 730 mil chineses buscaram asilo, além de 170 mil que vivem fora do país como refugiados, número este que tem se mantido estável.

Xi Jinping, presidente da República Popular da China desde 2013 (Foto: Kremlin.ru via Wikimedia Commons)

“Buscar asilo é para muitos um ato desesperado, reservado para aqueles com poucas outras opções. O que não se aplica aos muitos chineses que se mudaram, e continuam a fazê-lo, para os EUA, Austrália e além, muitas vezes via naturalização, visto de trabalho ou compra de propriedade”, diz a ONG de direitos humanos Safeguard Defenders, sugerindo a repressão estatal como uma explicação para o êxodo chinês.

Os Estados Unidos são de longe a escolha mais popular entre os chineses, com 88.722 pessoas em busca de asilo em 2021. O único outro lugar que tem sido consistentemente popular é a Austrália, que recebeu 15.774 solicitantes de refúgio no ano passado.

Caçados no exterior

Para combater a fuga de cidadãos, o governo chinês força muitos deles a retornar à China. Criou para isso a operação Sky Net, do Ministério da Segurança Pública, que ignora métodos legais, como a extradição, e aposta em um sistema clandestino que inclui detenção de familiares na China, envio de policiais ao exterior em missões secretas para intimidar alvos a retornar e até sequestros diretos no exterior.

“A prática global em rápida expansão representa uma grave ameaça à soberania nacional e aos direitos individuais em todos os lugares”, diz a Safeguard Defenders. “Conscientização e investigações nacionais, bem como ações direcionadas para combater essas operações e proteger aqueles em maior risco, são fundamentais para defender a ordem internacional baseada em regras”.

Para se ter uma ideia, um relatório divulgado pela ONG em novembro do ano passado indicava que mais de 600 cidadãos de Taiwan foram extraditados ou deportados para a China entre os anos de 2016 e 2019.

“Esta perseguição internacional de cidadãos de Taiwan equivale a um ataque à soberania de Taiwan e é parte de uma campanha global maior sob Xi Jinping para explorar tratados de extradição, acordos mútuos de aplicação da lei e outras instituições multilaterais para os objetivos políticos do PCC”, disse a entidade na ocasião. “A China tem mostrado cada vez mais que não respeita o Estado de Direito e violará as normas internacionais sem hesitação ao perseguir seus oponentes em todo o mundo”.

Principais alvos

Quem mais contribui para o grande número de saídas de cidadãos da China é a minoria étnica dos uigures, que foge do país para evitar abusos como trabalho forçado, internação em campos de concentração, vigilância tecnológica e até fertilização forçada. Dessa forma, é também o principal grupo alvo de repatriação forçada por parte de Beijing.

“Os uigures no exílio correm o risco constante de a China pressionar seus países de residência para detê-los e devolvê-los à força”, disse Dilxat Raxit, porta-voz do Congresso Mundial Uigur, à rede Radio Free Asia. “Pedimos à comunidade internacional que continue a tomar medidas para fornecer proteção adequada aos uigures em risco”

Além de grupos étnicos, caso dos uigures, também são alvo de Beijing dissidentes políticos, ativistas de direitos humanos, grupos religiosos e jornalistas.

Desde que o Sky Net foi lançado, em 2014, até o ano passado, a China repatriou quase dez mil pessoas de 120 países, segundo o relatório da Safeguard Defenders. No entanto, a subnotificação torna os números reais muito maiores, vez que apenas 1% das pessoas voltam à China usando procedimentos judiciais.

“Desde que Xi Jinping assumiu o cargo, ele criou um plano de ‘caça à raposa‘ para a opressão global de dissidentes que se estende internacionalmente”, disse Jing-jie Chen, pesquisador da ONG, que aponta a melhor forma de lutar contra a ameaça. “Se você tem apenas um simples status de residência de imigrante, pode não ser realmente protegido em alguns países. Às vezes, o pedido de asilo e status de refugiado podem oferecer mais proteção”.

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