Após escapar da perseguição na China, jovem cazaque fugiu da guerra na Ucrânia

Yilisen Aierken diz que temia por sua vida em Xinjiang. Após buscar asilo na Ucrânia, foi forçado a deixar o país rumo à Polônia

Yilisen Aierken, um cidadão chinês de etnia cazaque que foi forçado a deixar a China para fugir da perseguição do governo local, em 2019, agora se viu obrigado novamente a mudar de país. Desta vez, a guerra o fez a deixar a Ucrânia, onde havia recebido asilo, e buscar uma nova pátria disposta a recebê-lo. As informações são da rede Radio Free Europe.

Aierken, de 24 anos, conta que resolveu deixar a China em 2019. Ele vivia na região de Xinjiang, onde Beijing é acusada de perseguir minorias como uigures, cazaques e outros muçulmanos. Ele conta que fugiu quando percebeu que muitas pessoas, sobretudo jovens do sexo masculino, como ele, começaram a desaparecer nos campos de detenção do governo.

Primeiro, buscou abrigo no Cazaquistão, mas diz que não se sentiu seguro por lá. A proximidade entre o governo local e Beijing o tornou alvo dos serviços de segurança cazaques, e o medo de ser enviado de volta à China o fez mudar de endereço novamente. Então, em outubro de 2020, desembarcou em Kiev.

Yilisen Aierken, cidadão chinês de etnia cazaque que fugiu da Ucrânia (Foto: reprodução/Twitter)

Na Ucrânia, Aierken mais uma vez temeu sem mandado de volta para a China, que chegou a peticionar ao governo ucraniano para que o pedido de asilo dele não fosse aceito. A Justiça local, porém, negou o pedido de repatriação de Beijing, que acusou o jovem de mentir sobre a perseguição em Xinjiang.

“Pedimos que se recuse a conceder o status de refugiado ao indivíduo acima mencionado, a fim de preservar uma dinâmica positiva de desenvolvimento construtivo entre nossos dois governos”, diz a carta da Embaixada da China em Kiev.

Em meio à incerteza quanto ao futuro e após sofrer algumas ameaças em Kiev, Aierken fugiu para a Eslováquia, onde foi preso e quase enviado de volta à China. Quem o salvou foi Rayhan Asat, um advogado uigur que vive nos EUA e atua em causas humanitárias. Então, o jovem cazaque conseguiu ao menos retornar à Ucrânia, onde permaneceu até a eclosão da guerra.

“Ele ainda estava no limbo [legal], mas pelo menos estava seguro”, disse Asat. “Ele pensou que poderia ter uma nova vida na Ucrânia, mas teve que repensar tudo e mais uma vez correr por sua vida”.

Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, Aierken percebeu que, mais uma vez, era hora de mudar de país. Então, juntou-se aos mais de um milhão de deslocados que tiveram que fugir do território ucraniano para escapar das bombas russas. E usou o Twitter para pedir ajuda enquanto tentava deixar o país.

“Por favor, salve-me. Estou atualmente na Ucrânia”, disse ele em um vídeo publicado em seu perfil no Twitter no dia 24 de fevereiro. “Eu não quero morrer. Estou sozinho e desamparado. Por favor, me ajudem”.

Junto da multidão que deixava o país em guerra rumo a nações vizinhas, Aierken chegou à fronteira na última terça-feira (1º). Passou dias em uma fila específica para estrangeiros e não ucranianos e somente na quinta (3) conseguiu deixar a Ucrânia. Já na Polônia e sem os documentos necessários para buscar asilo, foi detido por um breve período, até que o pedido dele fosse processado.

“Ele deve agora reentrar em todo o processo de asilo”, disse Leila Nazgul Seiitbek, advogada e presidente da ONG Freedom For Eurasia (Liberdade Para a Eurásia, em tradução literal), que está cuidando do caso. “Ele ainda está em uma posição bastante vulnerável. Aierken e outros como ele não têm embaixada nem ninguém capaz de cuidar deles em seus países de origem”.

Para Aierken, porém, o fato de poder ingressar na Polônia é o bastante. “Estou livre”, disse ele pouco depois de ter sido autorizado a entrar no país. “Só quero poder viver uma vida e ter liberdade. Espero não voltar para a China”.

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