Paquistão frustra ataque em porto financiado com dinheiro da China

Porto de Gwadar é parte do Corredor Econômico China-Paquistão, projeto de Beijing criticado por grupos separatistas locais

O porto de Gwadar, no Paquistão, obra financiada pela China dentro da Nova Rota da Seda, foi palco de um violento episódio na quarta-feira (20). As forças de segurança conseguiram frustrar um ataque de separatistas armados e mataram oito agressores, com três agentes estatais igualmente mortos no confronto, segundo informações da agência Associated Press (AP).

De acordo com as autoridades, nenhum cidadão chinês foi ferido na ação, embora o porto, localizado na província do Baluchistão, esteja repleto de trabalhadores provenientes da China, país que tem especial interesse na região rica em recursos.

A ação foi posteriormente reivindicada pelo Exército de Libertação Balúchi (ELB), um grupo separatista que reivindica a autonomia da província e contesta a forte presença chinesa, sob o argumento de que extrai as riquezas sem trazer qualquer tipo de benefício à população local.

Porto de Gwadar, no Paquistão (Foto: Moign Khawaja/Flickr)

Mohammad Mohsin, um agente de polícia local, disse que, no início do ataque, um veículo carregado de explosivos invadiu o complexo empresarial anexo ao porto. Os agressores aproveitaram a detonação para acessar a área fortemente armados, levando a uma resposta das forças de segurança.

O setor onde ocorreu o embate abriga escritórios do governo paquistanês, inclusive do setor de inteligência, segundo a agência Reuters. O porto faz parte do Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC), que é o maior foco de insatisfação dos separatistas.

Por que isso importa?

O Baluchistão se estende por três países, Paquistão, Irã e Afeganistão. É uma região árida, montanhosa e rica em recursos minerais, cujo nome vem dos balúchis, um povo muçulmano essencialmente sunita originalmente iraniano que habita a área.

A porção paquistanesa é a mais extensa e tem sido palco de muita violência nos últimos anos. Grupos separatistas que atuam na região entraram em conflito com o governo do Paquistão, o que gerou milhares de mortes desde 2004. Organizações extremistas islâmicas ajudam a aumentar a tensão.

A luta dos separatistas é por maior autonomia política em relação a Islamabad e pelo direito de explorar os vastos recursos da região. Isso gerou desavenças particularmente com a China, sob a acusação de que o CPEC, anunciado em 2015, estaria sugando as riquezas da região sem melhorar as condições da população local.

Com um orçamento de US$ 60 bilhões, o CPEC projeta ligar a cidade portuária de Gwadar, no Baluchistão, a Xinjiang, no noroeste da China, por meio de obras rodoviárias e ferroviárias. O acordo ainda prevê projetos de energia para atender às necessidades de abastecimento do Paquistão.

Os balúchis argumentam que o projeto bilionário de infraestrutura não tem beneficiado a região, enquanto outras províncias paquistanesas colhem os frutos. O caso gera protestos generalizados, e os chineses são vistos como invasores dispostos a extrair as riquezas da região.

O principal grupo radical atuante no Baluchistão é o ELB, que em 2019 foi inserido pelos EUA na lista de grupos terroristas internacionais. A Frente de Libertação do Baluchistão (FLB) é outra organização de forte presença na região.

Tags: