Vítima da repressão política, Partido Democrata de Hong Kong enfrenta possível dissolução

Presidente da sigla afirma que a decisão de propor o encerramento foi tomada com base na 'atual situação' do território chinês

Os membros do Partido Democrata de Hong Kong votarão em breve a possível dissolução da legenda, que já foi a maior força de oposição na cidade. A medida ocorre após anos de repressão política e mudanças impostas por Beijing ao sistema eleitoral do território. As informações são da BBC.

O presidente do partido, Lo Kin-hei, afirmou que a decisão de propor o encerramento da legenda foi tomada com base na “atual situação política”. Desde a implementação da lei de segurança nacional em 2020 e da reforma eleitoral que restringe a participação a candidatos considerados leais ao governo chinês, a legenda perdeu espaço e encontrou dificuldades para operar.

A dissolução do partido ainda precisa ser aprovada em uma assembleia geral, na qual ao menos 75% dos membros presentes deverão votar a favor da medida. A data da reunião ainda não foi definida, mas um grupo de trabalho já foi criado para conduzir o processo.

Presidente do Partido Democrata de Hong Kong, Lo Kin-hei (Foto: WikiCommons)
Perseguição e repressão

Criado há 31 anos, o Partido Democrata chegou a manter um diálogo direto com autoridades de Beijing em 2010, discutindo propostas de reformas eleitorais. No entanto, setores mais jovens da legenda encararam as negociações como uma traição, o que levou a divisões internas.

Ainda assim, a legenda conseguiu se reerguer e conquistou o maior número de assentos nas eleições locais de 2019, realizadas durante os intensos protestos pró-democracia na cidade. Desde então, no entanto, tem sido alvo de uma série de restrições que dificultaram sua continuidade.

Atualmente, vários de seus integrantes, incluindo nomes de destaque como Helena Wong, Lam Cheuk-ting, Wu Chi-wai e Albert Ho, estão entre os 47 ativistas presos com base na lei de segurança nacional. Já o ex-legislador Ted Hui vive exilado na Austrália e é alvo de um mandado de prisão expedido por Hong Kong. Nesta semana, um tribunal determinou o confisco de seus bens na cidade.

Reações do governo

Autoridades de Hong Kong veem o enfraquecimento do Partido Democrata como um reflexo da perda de apoio popular. A conselheira do governo Regina Ip afirmou que a legenda “constantemente causava problemas dentro e fora do parlamento” e que sua dissolução era uma consequência natural.

“Não me surpreende que tenham perdido apoiadores nos últimos anos. O Partido Democrata chegou a um beco sem saída”, declarou Ip, que também integra o Conselho Executivo de Hong Kong.

A repressão a opositores se intensificou após os protestos de 2019, com Beijing justificando as medidas como essenciais para a segurança nacional. Em 2021, a implementação da chamada “lei dos patriotas” eliminou qualquer espaço para a participação da oposição, determinando que apenas candidatos leais ao regime comunista chinês poderiam concorrer a cargos públicos.

Caso a dissolução do Partido Democrata seja confirmada, Hong Kong perderá mais um dos últimos grupos políticos que ainda representavam a oposição institucional ao governo chinês.

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