Presidente e diretor renunciam aos cargos na Evergrande, afundada em dívidas

Depósitos de US$ 2 bilhões de uma subsidiária foram usados ​​como garantias para penhoras e apreendidos por bancos

Afundada em dívidas, a China Evergrande teve um novo revés na última sexta-feira (22). Xia Haijun, presidente da gigante imobiliária, anunciou sua renúncia ao cargo após ter seu nome relacionado a um esquema que resultou em bancos reivindicando bilhões de dólares de uma subsidiária. As informações são do jornal The New York Times.

A saída de Haijun ocorre após uma investigação ter apontado seu envolvimento em um episódio de desvio de empréstimos que teve como objetivo canalizar US$ 2 bilhões para os cofres da Evergrande de um de seus braços imobiliários, a Evergrande Property Services. O escândalo ocorre em meio a um processo de reestruturação da dívida de US$ 300 bilhões da empresa-mãe, que deu a ela o ingrato apelido de “a incorporadora mais endividada do mundo”.

De acordo com nota emitida pela empresa, uma apuração preliminar revelou que empréstimos garantidos pela unidade imobiliária foram direcionados de volta à companhia, desviados para a Evergrande por meio de terceiros, que não foram identificados. O dinheiro foi usado para “operações gerais”, diz o comunicado.

Prédio da China Evergrande Centre, em Hong Kong (Foto: WikiCommons)

Siu Shawn, que atuava como diretor executivo na companhia, assumiu no lugar de Haijun. Além do CEO, também deixou o cargo Pan Darong, diretor financeiro da incorporadora. No seu lugar entrou o vice-presidente da área, Qian Cheng.

Segundo o jornal Australian Financial Review (AFR), a Evergrande declarou que discute com a subsidiária um plano de pagamento das promessas, sem detalhar como ele ocorreria.

“O plano é principalmente compensar as quantias relevantes transferindo ativos do grupo para a Evergrande Property Services”, esclareceu a nota.

O novo CEO disse à imprensa chinesa na sexta passada (22) que a investigação não apontou apropriação pessoal de fundos. Além de pagar por operações gerais, o dinheiro foi usado no “pagamento de dívidas internas e externas”, disse Siu Shawn.

A nomeação de um consultor de controle interno, que seria responsável pela revisão dos procedimentos de gerenciamento de risco da empresa é uma medida estudada pela Evergrande, que disse que ainda apresentará um relatório detalhado sobre a investigação.

Por que isso importa?

Foi o endividamento da Evergrande que chamou a atenção para a crise imobiliária chinesa, símbolo das dificuldades enfrentadas pela economia local e seu outrora próspero setor. Depois de expandir e tomar empréstimos a uma velocidade vertiginosa, a incorporadora alega que tem lutado para juntar o dinheiro que precisa para honrar dívidas em atraso, empréstimos pendentes e salários atrasados.

Hui Ka Yan, fundador e presidente da companhia e que encabeça a lista de bilionários devedores do setor imobiliário chinês, já perdeu pagamentos de cerca de US$ 20 bilhões em títulos internacionais e ainda não ofereceu um plano de reestruturação viável para a empresa. Ele tentou restaurar a confiança no seu negócio em fevereiro, ao descartar a venda de ativos, alegando que a empresa concluiria metade de seus projetos restantes no decorrer de 2022.

No dia 21 de março, a Evergrande teve suspensa a negociação de suas ações na bolsa de Hong Kong e foi avisada de que precisa informar as autoridades locais sobre como será executada a reestruturação da companhia. No dia seguinte ao anúncio, a gigante chinesa teve cerca de US$ 2,1 bilhões em dinheiro apreendidos por bancos para o pagamento de credores.

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