Algumas províncias da China estão impondo barreiras ainda mais rígidas à internet do que o famoso sistema nacional de censura conhecido como Grande Firewall. É o que mostra um estudo recente publicado pela GFW Report, plataforma que monitora a censura digital no país. As informações foram reproduzidas pela rede Radio Free Asia (RFA).
A província de Henan, no centro da China, criou seu próprio firewall regional, menos sofisticado que o nacional, mas com atuação considerada mais agressiva. Segundo o estudo, entre 26 de dezembro de 2023 e 31 de março de 2025, o sistema local bloqueou 4,2 milhões de domínios, número quase seis vezes maior que o do firewall nacional, que bloqueou 741.542 sites no mesmo período.
De acordo com os pesquisadores Mingshi Wu, Ali Zohaib, Amir Houmansadr, Zakir Durumeric e Eric Wustrow, autores do relatório A Wall Behind A Wall (O Muro Atrás do Muro, em tradução literal), “essa censura localizada sugere um afastamento do aparato centralizado de censura da China, permitindo que autoridades regionais exerçam maior controle dentro de suas respectivas áreas”.

A prática, porém, não se limita a Henan. Técnicos e estudantes relataram à RFA que outras províncias, como Hebei, Tibete e Xinjiang, operam sistemas semelhantes há pelo menos quatro anos. Zhao Yuan, engenheiro de redes baseado em Hebei, disse que “no passado, podíamos acessar sites estrangeiros que não eram bloqueados pelo firewall nacional. Agora, nem VPNs funcionam em Henan e Hubei”.
Além de sites de notícias e conteúdo político — foco tradicional da censura nacional —, os firewalls regionais bloqueiam domínios com informações sobre economia, tecnologia e negócios. Segundo Zhang Jianan, engenheiro de redes entrevistado pela reportagem, “os funcionários preferem bloquear cada vez mais do que correr o risco de serem responsabilizados. O resultado é desconectar o mundo inteiro”.
A censura mais rígida tem afetado até mesmo universidades. Estudantes relataram dificuldades para acessar sites acadêmicos do exterior a partir de Henan e Hebei, enquanto colegas em Beijing e Shanghai mantêm o acesso normal.
O controle também inclui a vigilância direta. Em dezembro de 2023, a Universidade de Ciência e Tecnologia de Henan abriu licitação para contratar um sistema de monitoramento da opinião pública voltado a estudantes internacionais, estudantes locais e dissidentes. O sistema funciona 24 horas por dia, com alertas, análise de risco e rastreamento em tempo real em sites de notícias e redes sociais como Weibo e Douyin.