A China diz ter realizado na quarta-feira (26) um raro teste com um míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês) disparado em direção ao Oceano Pacífico. Segundo analistas ouvidos pela rede CNN, a operação é uma mostra de reforça de Beijing em um momento de tensão crescente, recado direcionado particularmente aos EUA.
“Às 8h44 do dia 25 de setembro, a Força de Foguetes do Exército de Libertação Popular (ELP) chinês lançou com sucesso um míssil balístico intercontinental carregando uma ogiva simulada de treinamento no alto mar relevante do Oceano Pacífico, pousando com precisão na área marítima predeterminada”, disse em comunicado o Ministério da Defesa de Beijing.
Ainda segundo o governo chinês, o disparo é “um procedimento de rotina” dentro de seus treinamentos militares anuais e está em “conformidade com o direito e a prática internacionais”. Esta é a primeira vez desde 1980 que o governo chinês realiza um teste de mísseis sobre o Pacifico. Os disparos mais recentes vinham ocorrendo sobre o deserto da região de Xinjiang.
De acordo com a agência estatal de notícias Xinhua, o disparo do ICBM “testa efetivamente o desempenho das armas e equipamentos e o nível de treinamento das tropas e atinge o objetivo esperado”. O texto acrescenta que “a China notificou os países relevantes com antecedência”, sem citar quais nações foram informadas.
Os EUA, entretanto, confirmaram ter recebido um aviso. Segundo uma porta-voz do Pentágono citado pela CNN, que não teve a identidade divulgada, o alerta antecipado por parte da China é “um passo na direção certa” e uma forma de “evitar qualquer percepção ou erro de cálculo”.
Apesar da reação amena de Washington, analistas enxergam o teste como um recado direto ao governo norte-americano em meio à tensão global atual, que opõe o Ocidente ao bloco liderado pela China ao lado de Rússia e Irã.
“O teste provocativo da China, conduzido durante seus exercícios militares regionais expansivos, demonstra sua capacidade de lutar em múltiplas frentes simultaneamente”, afirmou Leif-Eric Easley, professor de estudos internacionais na Universidade Ewha, em Seul, na Coreia do Sul.
Drew Thompson, pesquisador sênior da Escola de Estudos Internacionais S. Rajaratnam (RSIS) da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura, destaca o simbolismo embutido no momento que Beijing escolheu para fazer o disparo e o fato de ter alertado inclusive os EUA previamente. Ele lembra que muitos mísseis são testados pelo governo chinês, mas avisos prévios são raros.
“É uma declaração e tanto lançar um míssil balístico no Pacífico neste momento em que a China está em conflito com muitos de seus vizinhos”, acrescentou Thompson. “Este lançamento é um sinal poderoso com a intenção de intimidar a todos.”