Relatório aponta ameaça a bases dos EUA no Indo-Pacífico em caso de conflito com a China

Estudo sugere investimentos em drones e reparos rápidos para enfrentar ameaças de mísseis chineses às posições estratégicas

Bases aéreas dos Estados Unidos na região do Indo-Pacífico enfrentam sérias ameaças em caso de conflito com a China, segundo um relatório publicado pelo Stimson Center, think tank especializado em segurança e defesa. O estudo, cujo conteúdo foi reproduzido pela agência Reuters, aponta que milhares de mísseis chineses podem fechar pistas de pouso em locais estratégicos, como Japão e Guam, por dias ou até semanas.

De acordo com o relatório, um ataque chinês direcionado a pistas de pouso pode paralisar operações aéreas por pelo menos 11,7 dias no Japão e 1,7 dia em Guam. “Na prática, a China poderia interromper operações de combate dos EUA por muito mais tempo, negando o uso de pistas de decolagem para reabastecimento aéreo”, ressalta o documento.

O estudo sugere que os EUA priorizem investimentos em tecnologias que dificultem os planos de ataque chineses, incluindo drones baratos, aviões capazes de operar em pistas curtas e sistemas de reparo rápido. Além disso, reforçar alianças com países da região seria crucial para garantir o acesso a bases aéreas em caso de emergência.

Embarcações dos EUA em Santa Rita, Guam, maio de 2019 (Foto: U.S. Navy/John Philip Wagner Jr.)

Outro ponto destacado é o desenvolvimento de defesas antimísseis, como a criação de uma rede multibilionária de interceptores para proteger Guam. A Força Aérea dos EUA já investe em programas como o Rapid Airfield Damage Recovery (RADR), que visa reativar pistas rapidamente após ataques. “O programa foi projetado para permitir milhares de missões, mesmo sob ataque”, observa o relatório.

Avaliação de especialistas

Um ex-oficial de logística da Força Aérea dos EUA, que participou de simulações de conflitos no Indo-Pacífico, elogiou o relatório, mas apontou que as defesas americanas podem ser mais eficazes do que o estudo sugere. “Embora eu não concorde totalmente com os números, acredito que a análise esteja amplamente correta”, afirmou o oficial, que pediu anonimato devido à sensibilidade do tema.

O relatório também utilizou modelagem estatística para calcular os efeitos de ataques chineses, considerando variáveis como tamanho das pistas, precisão das armas chinesas e defesas americanas.

“Nunca antes tínhamos testado, ao menos em fontes abertas, a viabilidade de defender Taiwan ou afundar navios chineses enquanto bases como Japão e Guam estivessem disponíveis”, afirmou Kelly Grieco, uma das autoras do estudo.

O relatório ressalta que as operações dos EUA no Indo-Pacífico têm se baseado na estratégia de operações distribuídas, espalhando forças por diversas bases para reduzir vulnerabilidades. Contudo, a dependência de pistas em locais próximos ao território chinês, como Japão, continua sendo uma preocupação significativa.

O Ministério da Defesa da China e o Comando Indo-Pacífico dos EUA não comentaram o relatório.

Investimento elevado da China

Uma recente pesquisa conduzida por Taiwan revelou que a China investiu mais de US$ 15 bilhões em atividades militares no Indo-Pacífico em 2023, o equivalente a 7% de seu orçamento de defesa. O levantamento, baseado em operações navais e aéreas de Beijing, calculou custos como consumo de combustível, manutenção e salários.

Relatórios taiwaneses destacam a distribuição de recursos militares chineses em áreas estratégicas como o Estreito de Taiwan e o Mar da China Meridional. Para Taiwan, a análise ajuda a compreender a diferença entre os objetivos declarados de Beijing e sua capacidade real de execução.

Washington tem reforçado sua cooperação com Taiwan, realizando treinamentos conjuntos com forças especiais americanas para aprimorar a defesa da ilha. A iniciativa reflete uma tentativa de equilibrar a crescente presença militar chinesa e garantir a segurança regional em um cenário de disputas cada vez mais acirradas, embora o estudo recente do Stimson Center tenha apontado as deficiências do lado norte-americano.

Tags: