Uma pesquisa conduzida por Taiwan estimou que a China gastou mais de US$ 15 bilhões em atividades militares na região do Indo-Pacífico ao longo do ano passado. O valor equivale a 7% de todo o orçamento de defesa do governo chinês em 2023, segundo informações da agência Reuters.
Pesquisadores do governo taiwanês analisaram todas as operações navais e aéreas realizadas por Beijing na região em 2023. Eles calcularam os custos considerando o consumo de combustível e outros materiais por hora, além de despesas com manutenção e salários.
O Ministério da Defesa Nacional da ilha semiautônoma afirmou que o grande investimento militar da China está “comprometendo a paz e a estabilidade regional”, “prejudicando a prosperidade global”.
A pasta elaborou os relatórios em maio, com base em informações de vigilância e inteligência taiwanesa sobre a atividade militar chinesa em diversas áreas, como o Mar de Bohai, no nordeste da China, o Mar da China Oriental, o Estreito de Taiwan, o Mar da China Meridional e o Oceano Pacífico ocidental. Segundo o Times of India, esses relatórios estimaram o custo de combustível e outros consumíveis por hora de operação, totalizando aproximadamente 110 bilhões de yuans (US$ 15,3 bilhões), incluindo ainda despesas com manutenção, reparos e salários.
A pesquisa buscou ajudar os líderes de Taiwan a entender como a China distribui seus recursos militares em várias áreas e a analisar a diferença percebida entre o que Beijing pretende fazer e o que realmente consegue realizar. Comparar os custos das operações militares com a condição econômica da China permite que a ilha avalie melhor os riscos para ambos os países.
Enquanto isso, tanto os Estados Unidos quanto a China aumentaram de forma significativa seus exercícios militares na Ásia nos últimos anos, devido às crescentes tensões na região. No entanto, um estudo recente mostra que os exercícios militares de Beijing ainda são menores em escala e menos complexos em comparação com os de Washington.
O presidente Lai Ching-te prometeu melhorar a defesa nacional por meio de reformas e aumentar o orçamento militar. Recentemente, Taiwan realizou dois exercícios militares com munição real, testando seus mísseis antinavio Hsiung Feng e mísseis antiblindagem. Além de fortalecer suas próprias capacidades de defesa, a ilha está ampliando sua cooperação militar com Washington, o que pode melhorar o treinamento das forças especiais taiwanesas.
O Departamento de Defesa dos EUA está pedindo ao Congresso mais liberdade para usar suas forças especiais para apoiar aliados, incluindo Taiwan. O treinamento conjunto com Boinas Verdes e Marine Raiders ajudaria Taiwan a se preparar melhor para dissuadir possíveis conflitos com a China no estreito que separa os dois países.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.
Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.
A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.
O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.
Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro de 2022 “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.