Três cientistas russos são acusados por Moscou de repassar segredos militares à China

Moscou classifica as acusações como "muito sérias", enquanto os réus alegam que o material entregue a Beijing não era confidencial

A parceria “sem limites” anunciada por China e Rússia em fevereiro de 2022, que tem se fortalecido cada vez mais para fazer frente ao Ocidente liderado pelos EUA, não impede que os dois países tenham suas desavenças. Reportagem publicada nesta semana pela agência Reuters revelou que três cientistas russos estão presos sob a acusação de traição, por terem entregado segredos militares a Beijing.

Um dos acusados é Alexander Shiplyuk, chefe do Instituto Khristianovich de Mecânica Teórica e Aplicada (ITAM) da Sibéria. Ele teria entregado em 2017 informações supostamente confidenciais a fontes chinesas. O cientista admite abertamente que o material foi repassado aos chineses, mas alega que o conteúdo dos documentos, ligados à produção de mísseis hipersônicos, não era confidencial e estava disponível online.

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Shiplyuk está preso desde agosto do ano passado, mas somente agora o teor das acusações veio à tona. E ele não é o único acusado de trair Moscou entregando segredos a Beijing.

Um caso semelhante envolveu Dmitry Kolker, especialista em laser preso no ano passado e que morreu pouco depois, vitimado por um câncer. Já Alexander Lukanin foi preso em 2020, também acusado de entregar segredos militares à China, e cumpre pena de sete anos e meio de prisão. Um terceiro caso envolveu Valery Mitko, que foi preso em 2020 e morreu aos 81 anos quando estava em prisão domiciliar.

O que chama a atenção no caso de Shiplyuk é o fato de ele envolver informações sobre mísseis hipersônicos, setor no qual a Rússia se diz atualmente líder mundial. Trata-se de um armamento de última geração que é capaz de viajar em até dez vezes a velocidade do som, rompendo mesmo os sistemas de defesa antiaérea mais modernos.

Diferente dos episódios anteriores, que levaram a penas leves, a acusação contra Shiplyuk e dois colegas, identificados como Anatoly Maslov e Valery Zvegintsev, são tratados como prioridade pelo Kremlin, que realizará todos os procedimentos judiciais sob sigilo absoluto.

Para colegas dos três cientistas, porém, as acusações são infundadas. Um grupo de funcionários do ITAM chegou a publicar uma carta aberta alegando que as informações que constavam dos documentos de fato estavam disponíveis a quem quisesse acessá-las e que todo o conteúdo foi cuidadosamente verificado para determinar não se tratar de material confidencial.

Questionado, Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, minimizou a alegação dos cientistas. “Realmente vimos esse apelo, mas os serviços especiais russos estão trabalhando nisso. Eles estão fazendo seu trabalho. Essas são acusações muito sérias”, disse ele.

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