Em fevereiro deste ano, pouco antes do início da guerra na Ucrânia, os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, anunciaram uma parceira “sem limites”, formando assim uma frente consistente para enfrentar o Ocidente. Hoje, com o conflito em curso na Europa e a ameaça constante de um invasão chinesa a Taiwan que colocaria os EUA contra a parede, a parceria não dá sinais de enfraquecimento. Isso ficou claro com a recente troca de afagos entre os dois governos.
Na quinta-feira (27), Beijing se dirigiu a Moscou pela primeira vez desde o fim do Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), no sábado (22), que garantiu a Xi um inédito terceiro mandato à frente da segunda maior economia do mundo. Há indícios suficientes para afirmar que a aliança não será revista nesse nova etapa do governo chinês, apesar das especulações em contrário.
O porta-voz chinês foi o ministro das Relações Exteriores Wang Yi. “A China está disposta a aprofundar os intercâmbios com a Rússia em todos os níveis, elevar as relações e a cooperação China-Rússia em vários campos para um nível mais alto e fornecer mais estabilidade ao mundo turbulento”, disse ele, segundo o jornal South China Morning Post.
As palavras de Wang derrubam a expectativa de uma nova política chinesa em relação à Rússia, que alguns observadores esperavam para depois do Congresso. Um que havia se manifestado nesse sentido foi o o ex-secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger, ao dizer que Xi precisaria “se recalibrar” quanto à aliança.
“Na situação atual, a China ainda insiste na posição anterior, que na verdade mostra que nosso apoio à Rússia não mudou”, disse Yang Shu, ex-reitor de estudos da Ásia Central da Universidade de Lanzhou, no noroeste da China. “Apesar da especulação de uma mudança de política após o 20º Congresso, não temos nenhuma mudança, mas vamos aderir à política e à estratégia passadas”.
Do lado russo, a situação também é a mesma. Putin marcou sua posição durante discurso na quinta-feira (27), segundo o jornal Taiwan News. Ele chamou de “provocação” a visita a Taipé da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA Nancy Pelosi, em agosto, e se dispôs a ironizar a norte-americana, a quem chamou de “aquela vovó”.
A disputa que envolve a ilha autogovernada também foi citada por Igor Sechin, CEO da estatal petrolífera russa Rosneft e importante aliado de Putin. Durante um fórum econômico internacional no Azerbaijão, ele afirmou que “a posição de liderança [da China] é altamente respeitada” e que “o retorno de Taiwan ao seu porto nativo” está “dentro do cronograma”, segundo a agência Reuters.
EUA em alerta
Embora a parceria mereça atenção do Ocidente, a China é quem mais preocupa os EUA e seus aliados. É o que diz a nova estratégia de defesa do Pentágono. O documento afirma que o conflito com a China “não é inevitável nem desejável”, mas admite que é necessário impedir o “domínio de regiões-chave” por Beijing, referência à militarização do Mar da China Meridional e à tensão em torno de Taiwan.
A China “é o único concorrente que tem tanto a intenção de reformular a ordem internacional quanto, cada vez mais, o poder de fazê-lo”, disse o secretário de Defesa Lloyd Austin, segundo a agência Associated Press (AP). “Ao contrário da China, a Rússia não pode desafiar sistematicamente os Estados Unidos a longo prazo. Mas a agressão russa representa uma ameaça imediata e aguda aos nossos interesses e valores”.
Ainda assim, Moscou também ganha atenção no relatório e é citada como uma ameaça relevante devido às armas nucleares e mísseis de longo alcance de suas forças armadas e também às crescentes operações cibernéticas de hackers supostamente a serviço do Kremlin.