O presidente da Rússia, Vladimir Putin, prometeu que cidadãos indianos que foram enganados para servir às Forças Armadas russas na guerra da Ucrânia serão liberados para deixar o campo de batalhas, atendendo a um pedido do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. As duas autoridades se encontraram na quarta-feira (10) em Moscou, conforme relatou a rede BBC.
Vinay Kwatra, secretário de Relações Exteriores da Índia, disse pouco após o encontro entre os líderes que o premiê de seu país havia “levantado fortemente a questão da dispensa antecipada” dos indianos que eventualmente tenham sido “enganados para servir ao exército russo”. Ainda segundo ele, Moscou admitiu o problema e prometeu “dispensar antecipadamente” os indivíduos nessas condições.

Em maio, as forças de segurança indianas realizaram uma operação contra uma quadrilha que vinha aliciando jovens indianos para que se juntassem às Forças Armadas da Rússia, de acordo com a agência Reuters.
Na ocasião, a CBI (Agência Central de Investigações, da sigla em inglês) disse que ao menos 35 pessoas haviam sido enganadas. Os criminosos prometiam às vítimas, geralmente homens jovens, empregos lucrativos na Rússia, com salários bem superiores à média da Índia. Quando se apresentavam para a função, porém, as vítimas descobriam que haviam se alistado para lutar.
Kwatra citou números semelhantes nesta quarta, dizendo ter conhecimento de que algo entre 35 e 50 indianos foram enganados pela quadrilha. Dez deles já haviam sido autorizados a retornar a seu país de origem, com os dois governos atuando para repatriar os restantes.
O governo indiano também confirmou em maio que ao menos dois cidadãos do país haviam morrido até ali no conflito. Eles não faziam parte do esquema e teriam viajado conscientes de que serviriam às Forças Armadas, embora acreditassem que ocupariam funções de apoio longe do campo de batalhas.
Roman Babushkin, encarregado de negócios russo na Índia, disse na quarta que a presença de indianos nas Forças Armadas do país não estava nos planos. “Estamos do mesmo lado do governo indiano nessa questão”, disse ele, segundo a rede NDTV. “Vamos ser bem claros: nunca quisemos que indianos fizessem parte do exército Russo. Você nunca veria nenhum anúncio das autoridades russas sobre isso.”
Vítimas de várias nacionalidades
A Índia não é o único país onde recrutadores têm atuado para levar jovens a lutar ao lado das forças russas. O Sri Lanka afirmou, também em maio, que “vários” militares veteranos foram convencidos a se juntar ao exército russo sob a promessa de salários atrativos, com um número incerto deles mortos em combate.
No Nepal, familiares de homens convencidos a lutar chegaram a realizar protestos em frente à Embaixada da Rússia em Katmandu para pedir notícias dos combatentes. Em dezembro do ano passado, as forças de segurança nepalesas, com as da Índia, também realizaram uma operação que terminou com a prisão de suspeitos de participar do esquema de recrutamento.
Os nepaleses recrutados seriam principalmente jovens desempregados que teriam se alistado em troca de um passaporte russo, do visto de viagem e de vencimentos até seis vezes superiores ao salário mínimo local, que é de US$ 130 (R$ 704 no câmbio atual). Há inclusive relatos de homens que pagaram a recrutadores para que os trâmites com as forças russas fossem facilitados.