Sob suspeita, ‘megaembaixada’ da China em Londres é alvo de protesto popular

Manifestantes e políticos argumentam que a instalação poderia facilitar a repressão contra dissidentes e ampliar a espionagem

Londres testemunhou, no último sábado (8), uma manifestação em massa contra a construção da maior embaixada chinesa do mundo. Grupos de direitos humanos tibetanos, uigures, chineses e de Hong Kong se reuniram para expressar preocupações de que o edifício poderia ser usado por Beijing para monitorar e perseguir dissidentes no exterior. As informações são da rede Radio Free Asia.

De acordo com os organizadores, cerca de 4.000 pessoas participaram do protesto, realizado no histórico Royal Mint Court, a antiga Casa da Moeda Real, próximo à Torre de Londres. A manifestação antecede uma audiência pública marcada para esta terça-feira (11) que poderá definir o destino do projeto. A polícia britânica não divulgou estimativas oficiais sobre o tamanho do ato.

Prédio da Royal Mint Court seria a sede da embaixada (Foto: WikiCommons)
Temores de repressão e segurança

A China adquiriu o prédio histórico em 2018, planejando transformá-lo em um centro diplomático de grande escala, com infraestrutura dez vezes maior que a de uma embaixada comum. O projeto inclui centros de intercâmbio cultural e 225 unidades residenciais. No entanto, opositores afirmam que a instalação servirá como uma “base de espionagem”, ameaçando dissidentes e a segurança nacional britânica.

“As embaixadas chinesas funcionam como cães de guarda para monitorar e controlar minorias como tibetanos, uigures e ativistas de direitos humanos”, afirmou Tsering Passang, fundador da Aliança Global para o Tibete e Minorias Perseguidas (GATPM). “Estamos aqui para demonstrar que este local não é apropriado para uma embaixada e para alertar sobre os riscos que isso representa.”

Durante o protesto, ativistas exibiram cartazes com frases como “Diga não à superembaixada da China” e “Pare o policiamento secreto chinês no Reino Unido”. O ato foi marcado por momentos de tensão, com confrontos entre manifestantes e a polícia, resultando na prisão de duas pessoas por desrespeito às regras de manifestação.

Segurança nacional em pauta

A proposta da embaixada já foi rejeitada duas vezes pelo conselho local de Tower Hamlets, mas a decisão final agora está nas mãos da vice-primeira-ministra britânica, Angela Rayner. Um inquérito público sobre o caso ocorrerá entre os dias 11 e 18 de fevereiro.

A oposição ao projeto também ganhou força no Parlamento britânico. Políticos como Tom Tugendhat, Blair McDougall, Robert Jenrick e Iain Duncan Smith alertaram que a instalação poderá representar uma ameaça à segurança nacional. Smith acusou o governo britânico de ceder à pressão chinesa, afirmando que o apoio ao projeto teria sido “prometido” pelo primeiro-ministro Keir Starmer ao presidente Xi Jinping durante a Cúpula do G20, em novembro do ano passado, no Rio de Janeiro.

Protestos devem continuar

Rahima Mahmut, diretora do Congresso Mundial Uigur no Reino Unido, destacou que a manifestação foi uma das maiores contra o governo chinês na história recente de Londres. O protesto bloqueou temporariamente vias importantes da cidade, impactando o tráfego na região.

Moradores locais também demonstraram preocupação. Um residente identificado como Nas, que preferiu não revelar seu nome completo, alertou que a presença da embaixada pode impactar negativamente a comunidade muçulmana local. “Tememos que o governo chinês imponha seus valores na área e que isso afete mesquitas e espaços comunitários”, disse.

Tsering Passang reafirmou que as mobilizações continuarão: “Não estamos aqui apenas por hoje. Continuaremos nosso protesto e enviaremos uma mensagem clara ao governo britânico e a Beijing de que a repressão não será tolerada.”

A decisão final sobre a embaixada deverá ser anunciada após o encerramento do inquérito público.

O que a China diz?

Em resposta ao protesto, a embaixada chinesa no Reino Unido afirmou que se opõe firmemente às ações das “forças anti-China” contra o projeto da nova embaixada. Segundo um porta-voz, a construção permitirá um melhor cumprimento das funções diplomáticas e que o Reino Unido tem a obrigação internacional de apoiar a iniciativa. Beijing também pediu que o governo britânico tome medidas contra atividades consideradas ilegais.

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