Surto de Covid-19 chega ao Tibete, que relata falta de suporte do governo da China

Somente na capital Lhasa foram registradas mais de 120 mortes desde dezembro, quando Beijing encerrou a política Zero Covid

O Tibete já sofre com o surto de Covid-19 que atinge a China desde o final do ano passado. Mais de 120 pessoas morreram somente na capital Lhasa desde que Beijing encerrou abruptamente, no dia 7 de dezembro de 2022, a radical política Zero Covid que havia sido imposta no país, de acordo com a rede Radio Free Asia (RFA).

“Somente em 2 de janeiro, 64 corpos foram cremados no Cemitério Drigung, em Maldro Gongkar, com 30 cremados no Cemitério Tsemonling, 17 no Cemitério Sera e outros 15 cremados em um cemitério em Toelung Dechen”, disse uma fonte que não teve o nome revelado por questão de segurança.

De acordo com o mesmo indivíduo, trata-se de um grande aumento no número de mortes em relação ao que vinha sendo registrado anteriormente. “Antes disso, apenas 3 a 4 corpos eram cremados por dia nesses cemitérios na área de Lhasa”, afirmou.

Os números referentes à capital até parecem conservadores perto do que se tem observado em outras regiões tibetanas. Um segundo informante, que também teve a identidade preservada por motivo de segurança, destacou a grande quantidade de idosos mortos.

“Estamos vendo de dez a 15 corpos trazidos ao mosteiro de Kirti todos os dias para que os monges possam fornecer os últimos ritos. Mas cerca de dez monges Kirti, a maioria idosos ou com problemas de saúde subjacentes, também morreram nos últimos quatro dias”, disse.

Segundo ele, a China, país que ocupa o Tibete desde a década de 1950, não tem dado o devido suporte à população local. “O governo chinês não ofereceu nenhum local de teste ou instalações que forneçam tratamento médico oportuno, o que é muito preocupante”, afirmou.

Monastério Drepung, em Lhasa: Covid-19 também é um problema no Tibete (Foto: Birger Hoppe/Flickr)
Por que isso importa?

atual surto de Covid na China começou no final de novembro e piorou a partir de 7 de dezembro, quando o governo suspendeu subitamente os radicais bloqueios antes impostos à população para controlar a propagação da doença, a política Zero Covid.

Entre as medidas de flexibilização, doentes assintomáticos ou com sintomas leves são autorizados a se isolar em casa, não mais em instalações do governo. Testes de PCR e o aplicativo de monitoramento de saúde deixaram de ser obrigatórios para acessar locais públicos. Já os bloqueios de rua, que antes atingiam distritos inteiros, agora são menores, concentrados em andares ou edifícios específicos.

Um dos problemas do afrouxamento das medidas é o fato de que os cidadãos ficaram trancados durante muito tempo, o que reduziu entre os chineses a imunidade natural encontrada em outros países. Aumenta a preocupação a baixa taxa de vacinação entre os idosos, sendo que apenas 40% das pessoas a partir dos 80 anos receberam a terceira dose da vacina.

O governo chinês também não aprovou o uso no país de nenhuma vacina produzida no exterior, limitando seus cidadãos à inoculação com os imunizantes da Sinovac e da Sinopharm. Para especialistas, porém, o nível de imunidade fornecida pelas vacinas da China é mais baixo que o das ocidentais, que usam a tecnologia de RNA mensageiro, mais moderna.

Um estudo publicado em dezembro pela revista de medicina Lancet em Singapura mostra que as vacinas chinesas, que usam a tecnologia do vírus inativado, mais antiga que a do RNA mensageiro, levam a uma probabilidade quase duas vezes maior de o indivíduo inoculado desenvolver Covid-19 grave.

“Continuamos preocupados com a evolução da situação e continuamos incentivando a China a rastrear o vírus da Covid-19 e vacinar as pessoas de maior risco. Continuamos a oferecer nosso suporte para atendimento clínico e proteção de seu sistema de saúde”, disse Tedros.

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