Indícios sugerem uma onda de mortes por Covid após fim de bloqueios na China

Mídia local informou os óbitos de dois jornalistas. Capital chinesa estaria enfrentando um surto, com hospitais operando no limite

Uma onda de mortes por Covid-19 estaria acontecendo na China após o afrouxamento das medidas sanitárias, anunciado na semana passada. Há fortes evidências, segundo o jornal Financial Times (FT), embora somente dois óbitos tenham sido registrados, ambos não oficialmente, desde que um surto da doença atingiu Beijing nos últimos dias.

A imprensa chinesa noticiou as mortes de dois ex-jornalistas da mídia estatal local, segundo repercutiu a agência Reuters nesta sexta-feira (16). Foram as primeiras mortes relatadas desde que a maioria das medidas da radical política de Zero Covid foram descontinuadas no último dia 7.

As vítimas são dois repórteres veteranos. Yang Lianghua, que trabalhou no People’s Daily, morreu em 15 de dezembro, aos 74 anos. O outro é Zhou Zhichun, ex-editor do China Youth Daily, que faleceu no dia 8, aos 77.

Médicos e funcionários da saúde em hospital improvisado em Wuhan, na China (Foto: Divulgação/UN News/Sang Huachao)

As mortes não foram notificadas pela Comissão Nacional de Saúde, que parou de divulgar a contagem de casos e não relata nenhum óbito oficial por Covid desde que aliviou os bloqueios sanitários. As últimas baixas constam do dia 3 de dezembro, nas províncias de Shandong e Sichuan.

Entretanto, há evidências de que o governo omite os dados reais. Um crematório na capital relatou que pelo menos 30 vítimas de coronavírus foram cremadas na quarta-feira (14). Repórteres do FT dizem ter visto dois sacos de cadáveres em um hospital destinado para pacientes infectados.

“Nós cremamos 150 corpos, muito mais do que em um dia típico no inverno passado”, disse um funcionário da funerária estatal Beijing Dongjiao, que falou sob condição de anonimato. “Trinta ou 40 tiveram Covid”.

A explosão de casos está levando o sistema de saúde para perto de um colapso, com os médicos da capital sendo solicitados a permanecer nos postos mesmo que tenham testado positivo, segundo a reportagem do FT.

No Hospital Chui Yang Liu, que não é exclusivo para pacientes com coronavírus, quatro corpos em macas foram cobertos com um pano branco e empurrados para o lado da sala de emergência na noite de quinta-feira (15). “Alguns tiveram [Covid] e outros não”, relatou um médico do pronto-socorro.

No mesmo dia, uma fila de vans pretas carregando caixões e carros cheios de pessoas enlutadas se acumulavam no estacionamento lotado de uma casa funerária na capital. 

Flexibilização pode expor 90% dos chineses

Entre as medidas de flexibilização em vigor, doentes assintomáticos ou com sintomas leves serão autorizados a se isolar em casa, não mais em instalações do governo. Testes de PCR e o aplicativo de monitoramento de saúde deixarão de ser obrigatórios para acessar locais públicos. Já os bloqueios de rua, que antes atingiam distritos inteiros, agora serão menores, concentrados em andares ou edifícios específicos.

O problema do afrouxamento das medidas é justamente o fato de que os cidadãos ficaram trancados durante muito tempo, o que reduziu entre os chineses a imunidade encontrada em outros países. Aumenta a preocupação a baixa taxa de vacinação entre os idosos, sendo que apenas 40% das pessoas a partir dos 80 anos receberam a terceira dose da vacina.

Para especialistas em saúde, a nova realidade pode fazer com que até 90% da população chinesa seja contaminada pelo coronavírus. Segundo Anthony Fauc, consultor médico da Casa Branca, a situação tende a afetar também os demais países, com o risco de que novas variantes da Covid surjam na China e posteriormente se espalhem.

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