Um tribunal em Bangladesh decretou nesta quinta-feira (17) a prisão da ex-primeira-ministra Sheikh Hasina, que está autoexilada e fugiu para a Índia há mais de dois meses, após ser derrubada por uma revolta estudantil. Mohammad Tajul Islam, promotor-chefe do Tribunal Internacional de Crimes de Bangladesh (ICT, da sigla em inglês), anunciou que a corte expediu mandados de prisão para Sheikh e outras 45 pessoas, convocando-os a comparecer perante a justiça até 18 de novembro. As informações são da Associated Press.
Islam afirmou que Sheikh estava no comando durante os massacres, assassinatos e crimes contra a humanidade ocorridos em julho e agosto. Ele se referia à repressão aos protestos estudantis, que resultaram na morte de mais de mil pessoas, conforme relatado pelo Ministério da Saúde interino.
O movimento estudantil começou com manifestações exigindo o fim da prática governamental de reservar um terço dos empregos públicos para parentes de veteranos de guerra, mas logo se transformou em protestos mais amplos pedindo a renúncia de Sheikh. Em resposta, o governo fechou universidades e usou a polícia e as Forças Armadas para reprimir os manifestantes. Grupos de direitos humanos acusaram a primeira-ministra de usar força excessiva contra os manifestantes, uma acusação que ela negou.
Após semanas de intensa agitação nacional, Sheikh renunciou e fugiu para a Índia no início de agosto. Por ora, o país terá um governo interino do país liderado por Muhammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel, antigo rival político de Hasina e o preferido dos manifestantes para o cargo. Embora seja alvo de uma ação judicial e esteja atualmente em liberdade condicional, ele alega que o caso tem motivação política.
Desde que deixou Bangladesh, Sheikh não foi vista em público. Seu último paradeiro oficial foi uma base aérea militar perto de Nova Délhi, na Índia. A presença dela na Índia causou indignação em Bangladesh, que revogou seu passaporte diplomático. Embora exista um tratado bilateral de extradição entre os dois países, uma cláusula permite a recusa da extradição se o crime for considerado de “caráter político”.
Foi sob o governo de Sheikh que o controverso ICT foi criado em 2010 para investigar atrocidades cometidas durante a guerra de independência do Paquistão em 1971. A ONU (Organização das Nações Unidas) e grupos de direitos humanos criticaram as deficiências processuais do tribunal, que muitas vezes foi visto como uma ferramenta da ex-premiê para eliminar opositores políticos.
Atualmente, o tribunal está investigando vários casos que acusam Sheikh de orquestrar o “assassinato em massa” de manifestantes.