O governo de 15 anos da primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, terminou nesta segunda-feira (5) após ela renunciar ao cargo e fugir do país após mais de um mês de protestos violentos contra suas políticas. Diante da situação, os militares anunciaram a formação de um governo provisório. As informações são da agência Reuters.
Desde o início de julho, Hasina tentou reprimir os protestos nacionais contra seu governo organizados por estudantes. No entanto, após um domingo (4) de distúrbios intensos que deixaram quase 100 mortos, ela decidiu fugir. Relatos da mídia indiana indicam que uma aeronave com Hasina pousou na Base Aérea de Hindon, próxima a Nova Délhi. De acordo com o canal de notícias India Today, ela estava a bordo de um avião da Força Aérea de Bangladesh que aterrissou na base em Ghaziabad.
O chefe do exército de Bangladesh, general Waker-Uz-Zaman, anunciou em uma transmissão na televisão estatal que Hasina havia renunciado e que os militares formariam um governo interino. Ele pediu calma à nação.
“O país sofreu muito, a economia foi atingida, muitas pessoas foram mortas. É hora de acabar com a violência”, disse Waker, trajando uniforme militar, após multidões invadirem e saquearem a residência de Hasina.
Pelo menos 20 pessoas foram mortas durante a violência na capital de Bangladesh na segunda-feira, informou Bacchu Mia, inspetor de polícia do Hospital Médico Universitário de Dhaka.
Milhões de bengaleses saíram às ruas por todo o país, muitos comemorando de forma pacífica. Multidões eufóricas agitavam bandeiras, algumas dançando sobre um tanque, antes que milhares invadissem a residência oficial de Hasina. O Canal 24 de Bangladesh mostrou multidões correndo para o complexo, acenando para a câmera, saqueando móveis e livros, enquanto outros relaxavam nas camas.
Bangladesh enfrentou vários anos de regime militar nas décadas de 1970 e 1980, após a guerra que assegurou sua independência do Paquistão em 1971, e muitos temem o risco de um retorno a esse cenário.
Os protestos começaram há um mês por causa de um polêmico esquema de cotas de emprego proposto por Hasina. Em resposta, o governo fechou universidades e usou a polícia e o exército para reprimir os manifestantes.
A primeira-ministra decretou um toque de recolher nacional e bloqueou o acesso a telefones e internet. Mesmo assim, os protestos continuaram, e o tribunal superior decidiu reduzir as cotas contestadas de 30% para 5%, com 3% reservado para parentes de veteranos da guerra de libertação de 1971.
Hasina, conhecida por sua calma e firmeza, superou várias crises e atentados durante seu mandato. Ela enfrentou uma rebelião paramilitar, eleições controversas, alegações de violações dos direitos humanos e protestos. Recentemente, no entanto, os protestos estudantis se tornaram o maior desafio de sua carreira.
Durante dezesseis anos, Hasina ajudou Bangladesh a sair da pobreza. Alguns acreditam que os avanços foram resultado de sua liderança, enquanto outros afirmam que ocorreram apesar de um governo cada vez mais autocrático.
Quarto mandato levantou suspeitas
Em janeiro, o alto comissário de direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), Volker Turk, pediu que o novo governo eleito de Bangladesh tomasse medidas para renovar o compromisso do país com a democracia e os direitos humanos, expressando preocupação com a violência e repressão de candidatos e apoiadores da oposição no ambiente das eleições do último domingo.
À época, a imprensa internacional destacou que a vencedora das eleições parlamentares, a primeira-ministra Sheikh Hasina, que estava no poder desde 2009, iria para seu quinto mandato após a disputa, boicotada pela oposição. Segundo agências de notícias, os opositores argumentaram que o pleito não seria livre ou honesto e denunciaram “uma eleição falsa”.
Turk adicionou que, no período que antecedeu a votação, milhares de apoiadores da oposição foram detidos arbitrariamente ou sujeitos a intimidação. Para o alto comissário, tais táticas não contribuem para um “processo genuíno”.