Tropas norte-coreanas sofrem pesadas baixas e deixam a linha de frente na Ucrânia

Pyongyang enviou suas forças de elite para apoiar a Rússia na guerra, mas em apenas três meses perdeu metade do contingente

Soldados norte-coreanos que se juntaram às forças russas na guerra contra a Ucrânia foram retirados da linha de frente após sofrerem grandes perdas, segundo autoridades ucranianas e americanas. A decisão, que pode não ser definitiva, reflete as dificuldades enfrentadas pelas tropas enviadas por Pyongyang para reforçar os russos na defesa contra a ofensiva ucraniana dentro do território russo. As informações são do The New York Times.

De acordo com fontes militares, as tropas norte-coreanas não foram vistas no front há pelo menos duas semanas. A chegada de aproximadamente 11 mil soldados da Coreia do Norte à Rússia em novembro gerou apreensão entre os aliados de Kiev, que temiam uma escalada do conflito. No entanto, em apenas três meses, esse contingente foi reduzido à metade, conforme revelou o general Oleksandr Syrsky, comandante militar ucraniano.

Soldados ucranianos que enfrentaram os norte-coreanos os descreveram como combatentes agressivos, mas apontaram a falta de coesão e organização dentro das fileiras, além da ausência de integração com as forças russas, como fatores que aumentaram as baixas. Segundo relatos de combatentes e autoridades ucranianas, os soldados da Coreia do Norte avançavam com poucos veículos blindados e sem tempo para reagrupamento, tornando-se alvos fáceis para as tropas da Ucrânia.

Soldado norte-coreano (WikiCommons)
A batalha por Kursk

A ofensiva ucraniana na região de Kursk, dentro do território russo, tem sido alvo de críticas. Alguns analistas consideram a operação um desperdício de recursos, especialmente em um momento em que as tropas ucranianas enfrentam dificuldades para conter a ofensiva russa em outras frentes. No entanto, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem mantido a estratégia de segurar a região pelo maior tempo possível, buscando usá-la como moeda de troca em futuras negociações de paz.

A presença ucraniana em Kursk representa um desafio político para o presidente russo, Vladimir Putin. Embora tenha prometido expulsar as forças ucranianas, Putin tem evitado deslocar tropas de outras operações estratégicas no leste da Ucrânia, tentando manter sua posição forte em futuras tratativas diplomáticas.

A aliança entre Kim Jong-un e Putin

O envolvimento da Coreia do Norte no conflito reflete a crescente aliança entre Moscou e Pyongyang. Segundo agências de inteligência dos Estados Unidos, a decisão de enviar tropas para ajudar os russos partiu do líder norte-coreano, Kim Jong-un, e foi prontamente aceita por Putin. No entanto, muitos desses soldados, treinados para operações especiais, foram utilizados como infantaria convencional, sendo enviados em ataques frontais contra posições fortificadas ucranianas, o que resultou em grandes perdas.

Apesar da retirada, autoridades americanas alertam que o afastamento das tropas norte-coreanas pode ser temporário. Existe a possibilidade de que retornem ao front após receberem treinamento adicional ou caso os russos encontrem formas mais eficazes de empregá-las, reduzindo as baixas.

Trocas militares entre Rússia e Coreia do Norte

Além do envio de tropas, a Coreia do Norte também tem abastecido a Rússia com milhões de projéteis de artilharia, que agora representam cerca de metade das munições disparadas diariamente pelas forças russas. Pyongyang também forneceu foguetes e mísseis para Moscou, enquanto, em contrapartida, os russos têm enviado petróleo, alimentos e tecnologias militares para modernizar o arsenal norte-coreano.

A cooperação militar entre os dois países se fortaleceu nos últimos meses. Em uma reunião realizada no verão passado, Putin e Kim Jong-un restauraram um tratado da era da Guerra Fria de cooperação militar e defesa mútua. Especialistas avaliam que a parceria pode trazer implicações de longo prazo, com a Coreia do Norte buscando apoio russo para seus programas de mísseis e para obter respaldo diplomático na ONU.

Enquanto isso, os combates na região de Kursk continuam intensos. As forças ucranianas lançaram uma nova ofensiva na área recentemente, mas enfrentaram forte resistência das defesas russas. Embora a Ucrânia tenha conquistado aproximadamente 500 milhas do território russo no ano passado, os russos já recuperaram metade desse espaço, mantendo o conflito em um impasse estratégico.

A incursão ucraniana em território russo em agosto surpreendeu o Kremlin e marcou um momento inédito na guerra, sendo a primeira vez em uma década que a Ucrânia conseguiu tomar e manter controle sobre território russo. Em um discurso recente, Zelensky elogiou os soldados que lutam em Kursk, afirmando que suas ações criaram uma “zona-tampão” para impedir novos ataques russos ao nordeste da Ucrânia.

O futuro da guerra e as alianças internacionais

A retirada das tropas norte-coreanas do front levanta questões sobre a viabilidade do apoio militar de Pyongyang a Moscou e se essa parceria pode ser sustentada no longo prazo. Com a guerra se estendendo e a Rússia cada vez mais dependente de aliados como Irã e Coreia do Norte para suprimentos militares, o conflito continua a ter repercussões globais.

Nos próximos meses, especialistas estarão atentos a possíveis novos envios de tropas e armamentos norte-coreanos para a Rússia e ao impacto disso na dinâmica da guerra. Enquanto isso, a batalha por Kursk e outras regiões estratégicas segue sendo um fator decisivo na resistência ucraniana e na pressão sobre o governo de Vladimir Putin.

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